O primeiro time da história a ganhar o jogo sete de uma série de
playoffs na prorrogação. O primeiro time da história da franquia a ganhar o
jogo sete fora de casa. Apenas o quarto time da NBA a ganhar em terreno
inimigo no jogo sete. E falta pouco para se tornar o quinto a ganhar três
campeonatos seguidos.
Essas são apenas algumas marcas que transformaram a vitória do Los
Angeles Lakers sobre o Sacramento Kings num dos jogos mais memoráveis de
todos os tempos. Não apenas esta partida, como a própria série, com todos os
jogos decididos no último minuto. Pura emoção!
O Lakers mostrou uma capacidade de reação incomum. Se não era possível
vencer na técnica e na tática, a arma foi usar a cabeça. O técnico Phil
Jackson, dominado pelo esquema do Kings, só podia se superar no que sabe
fazer melhor: motivar e desafiar seus próprios jogadores.
Jackson não conseguiu parar o armador Mike Bibby. Também penou com a
versatilidade de Chris Webber. E demorou cinco jogos para descobrir que era
impossível, com os jogadores que tem, deter as duas principais forças do
Kings. A saída era simples: jogar melhor do que eles.
Foi esse o desafio lançado por Phil Jackson, um especialista em
motivação. O técnico passou os últimos jogos aos berros com o pivô Shaquille
O'Neal e o ala Kobe Bryant. Pelas imagens da TV, parecia que faltava pouco
para que eles saíssem no braço.
Jackson exigiu o máximo de Shaq. A intenção era achar o posicionamento
correto no garrafão, para impedir as infiltrações do Sacramento. E também
evitar que o pivô fosse envolvido em armadilhas, como sair para a cobertura,
deixando o garrafão aberto e ficando ainda sujeito a cometer faltas, como
ocorreu nos primeiros jogos.
O técnico também cobrou maior aplicação de Kobe Bryant, tentando minar
o seu individualismo. O objetivo era fazer com que Kobe distribuísse mais a
bola, evitasse penetrações kamikases no garrafão, que causaram dezenas de
perdas de bola.
Enfim, pediu que suas duas maiores estrelas justificassem seus
milionários salários. O resultado foi claro: domingo, Shaq terminou com 35
pontos. Kobe, com 30.
No vestiário do Arco Arena, em Sacramento, Shaq foi flagrado num
emocionante cumprimento com Phil Jackson. O mesmo havia ocorrido na partida
anterior, entre o técnico e Kobe Bryant. Sem dúvida, os três são o coração
do Lakers.
O Sacramento também colaborou. Errou arremessos decisivos no final da
sétima partida, que poderiam ter dado a vitória. Além disso, a equipe
distribuiu mal os últimos lances. Webber, que teve uma atuação brilhante nos
arremessos da entrada do garrafão, foi quase ignorado nos momentos
decisivos. A bola acabou sobrando para o instável Doug Christie e para Peja
Stoikovic, sem ritmo após voltar de lesão.
Mas, ao contrário do que ocorreu com o Portland há dois anos, também no
jogo sete da decisão do Oeste, o Sacramento deve crescer. Apesar de alguns
veteranos como Vlade Divac e Christie, o time é jovem, vai ganhar em
maturidade, e não desmoronar como aconteceu com o Trail Blazers.
E o Lakers, já tem o título garantido? É bem provável. O New Jersey
Nets não tem ninguém com capacidade para segurar Shaquille O'Neal, na
decisão que começa nesta quarta, em Los Angeles. Jason Kidd pode engrossar,
como fez Mike Bibby, mas falta arsenal para o campeão do leste provocar uma
zebra diante do campeão da motivação, mais motivado do que nunca.