Está difícil dormir nos dias dos jogos da Seleção Brasileira. Há sempre um vizinho mais entusiasmado que se anima a soltar foguetes em plena madrugada. É a torcida que se empolga com o Brasil. Nada mais justo, uma vez que nosso time somou 9 pontos e fez 11 gols.
Os jornais do mundo inteiro elogiam o Brasil. Para os colegas estrangeiros a Seleção voltou aos seus melhores dias. Eles ainda acham que somos o país do futebol alegre, ofensivo, demolidor. As manchetes do exterior gritam nas primeiras páginas elogios, fazendo a velha e surrada ligação do futebol com o samba, do gol com o tamborim.
Por outro lado, alguém sempre lembra que a crônica esportiva brasileira é muito dura com o time e a comissão técnica. Talvez porque os bem-intencionados colegas internacionais não tenham a vivência que nós por obrigação profissional adquirimos. Todo jornalista brasileiro que trabalha com esportes é exigente.
Como não ser se o país é quatro vezes campeão do mundo? Se na Ásia estão 23 jogadores que causam admiração, eles não sabem que aqui ficaram, pelo menos, mais dois times quase que nas mesmas condições.
Quando a Seleção entra em campo o brasileiro esquece todos os seus complexos. A partir daí somos os maiores. A história dos Mundiais é testemunha da nossa superioridade.
É obrigação do jornalista aplaudir as qualidades. É quando patrocina o óbvio, quando aponta os erros, mesmo nas vitórias, é quando exerce melhor a sua profissão.
Quarta na televisão, depois do jogo contra a Costa Rica, colocaram o Felipão no centro de uma mesa-redonda. No meio de tanto marmanjo foi preciso que uma mulher, uma jornalista competente mas que nem é do ramo (Fátima Bernardes), provocasse a discussão.
E os entendidos foram atrás: Casagrande, Falcão, Arnaldo Coelho, Dario, Noronha, Júnior e Zagallo. Todos quiseram explicar ao técnico Felipão o que deveria ser feito para melhorar a Seleção. Que a defesa brasileira é confusa e vulnerável.
Constrangido e inteligente, Ricardinho, de corpo presente, foi aplaudido e exigiram sua presença no time titular. Com classe o jogador saiu-se bem.
Felipão ouviu tudo com calma, até que Zagallo quis dar-lhe uma lição. Aí o velho gaúcho atacou o velho lobo. Ao se referir a Zagallo não o chamou pelo nome, usou o pronome "ele". Disse que "ele" não tinha visto ainda o Cafú jogar.
Foi uma patada desferida com fina ironia. Mas Felipão sentiu a barra pesada, ouviu o galo cantar.
Não tenho dúvidas de que todas as críticas que foram feitas entraram por um ouvido do técnico e sairam pelo outro lado sem que ele aproveite sequer uma consideração. É o seu estilo. Ficou claro que Felipão não tem nenhuma simpatia por Zagallo, e o critica duramente. Ainda bem que não sou só eu.