Kobe– Alemanha, Inglaterra, Espanha e Senegal. Quem disse que esta Copa do Mundo não iria deslanchar? Estão classificadas para as quartas-de-final duas seleções campeãs do mundo, uma equipe considerada favorita mesmo antes do início da competição e, para manter a tradição e acrescentar tempero à mistura, uma grata surpresa africana.
Hoje e amanhã, conheceremos as outras quatro classificadas – com a enorme esperança de que o Brasil esteja entre elas. As emoções começam a aparecer aqui no Oriente. Prorrogações, gols de ouro, disputas de pênaltis, quanta coisa com cara de Copa vivemos nos últimos dias.
No primeiro confronto, o Paraguai outra vez lutou bravamente para levar a decisão para os pênaltis – na esperança de que o herói Chilavert, que andou falhando na fase classificatória, resolvesse a parada. Como na Copa de 98, não deu. A Alemanha, mesmo com um futebol burocrático, foi em frente no campeonato.
E aqui, uma pergunta: há quanto tempo o time alemão é burocrático? E há quanto tempo ele vai em frente no campeonato? Como os italianos, os alemães parecem ter sete vidas. Olho neles!
Em seguida foi a vez da Inglaterra conseguir sua vaga. De todas as seleções, foi a única que passou sem sustos. Talvez numa espécie de compensação dos deuses do futebol, depois de uma agônica passagem no duríssimo “Grupo da Morte”.
Os ingleses bateram os dinamarqueses jogando num tradicionalíssimo – e nem por isso menos eficiente – 4-4-2, com duas linhas nítidas de marcação, uma na intermediária e outra na frente da grande área. Parece fácil atacar um time que joga com os defensores em linha. Mas quando cada um sabe exatamente que faixa do campo está sob sua responsabilidade, a coisa se complica. Não por acaso, os bretões sofreram apenas um gol até agora.
Poderia continuar falando dos ingleses e de como o Brasil, com toques curtos e jogadas pelas extremas, poderá vencê-los. Mas prefiro aguardar o resultado do jogo de hoje, já que ainda não estou tão seguro de que as zebras cansaram de pastar em campos asiáticos. A Suécia não pensou assim, fez 1 a 0 em Senegal e passou a se defender. Foi quando o talento dos senegaleses fez a diferença.
Com bons dribles, bolas entre as pernas dos marcadores e chutes precisos, eles demonstraram boa parte do arsenal de truques que o futebol-arte, tão combatido, ainda pode aprontar contra seleções pragmáticas.
Os times nórdicos surpreenderam na primeira fase, vencendo seus grupos com um jogo organizado. Mas, como para ganhar uma copa é preciso um mínimo de brilho, suecos e dinamarqueses voltaram para casa após derrotas tão tristonhas quanto o futebol que exibiram. O mais incrível é que minutos antes da bola do golden goal dos senegaleses bater na trave e entrar, um chute do ataque sueco bateu na trave e saiu. Estes dois lances resumem toda a partida. E ainda há quem diga que no futebol não existe sorte.
Não foi por falta de sorte, entretanto, que a Irlanda ficou fora da disputa. Pênalti não tem nada de loteria, pois se fosse assim os técnicos apenas sorteariam os cobradores na hora da disputa. A Irlanda, repetindo o Brasil de 86, perdeu um pênalti durante o jogo e três na disputa final. Uma equipe que perde quatro pênaltis num jogo não pode achar justo continuar na disputa, mesmo que tenha dominado a prorrogação, como fizeram os irlandeses. Melhor para a Espanha, que, ao menos no conjunto da obra, esteve melhor do que a Irlanda na competição.
Os enfrentamentos estão se definindo e, ao contrário do que muitos andam falando por aí, eu acredito que esta Copa ainda vai nos presentear com jogos inesquecíveis. Para que possamos continuar mantendo o papel de principal protagonista da competição – agora indiscutivelmente nosso – temos que torcer para que, contra a Bélgica, a nossa defesa erre um pouco menos e o nosso ataque ao menos mantenha a volúpia da primeira fase. O jogo começa daqui a pouco – ou acabou de terminar, dependendo da hora em que o leitor decidiu abrir o jornal.
Durante a partida é que ninguém vai ler mesmo. Ainda que, se isso acontecesse, eu interpretaria como um sinal de extrema tranqüilidade do nosso time dentro de campo – o que seria ótimo.