Em junho de 1970, quando Tostão iniciou a jogada driblando três jogadores da
Inglaterra e a bola foi até Pelé, que rolou para Jairzinho marcar o gol
redentor, o Brasil explodiu de alegria. No meio da multidão de anônimos
estava um regular jogador de futebol iniciando a carreira, tentando a sorte
na profissão. Seu nome: Luiz Felipe Scolari.
Na época o jovem jamais poderia
sonhar que 32 anos depois, muitas andanças e tentativas, a
história pudesse se repetir. Claro, com um enredo e protagonistas bem
diferentes.
Os heróis de 70 nunca foram anônimos, mas na próxima sexta-feira
Pelé, Jairzinho e outros campeões estarão no meio da multidão com o coração
explodindo na esperança de gritar gol. O jovem Luiz Felipe deixou o interior
do Rio Grande, correu atrás da bola enquanto pôde, foi esforçado, mas nunca
foi craque. Deixou o gramado, foi para a beira do campo, sentou-se no banco
dos técnicos. É ali que ele vai estar na madrugada de sexta-feira, com seu
jeito despojado e seu agasalho amassado. Vai ser o jogo da sua vida.
Tenho a
convicção e a esperança de que, se o Brasil ganhar da Inglaterra, vai ser
campeão do mundo. Com todos os defeitos do nosso time, a caminhada até agora
sofrida será superada. Daí para frente já não vai mais importar os erros de
Polga, Roque Júnior e demais parceiros. Foi assim na Copa do México. A
vitória sobre a Inglaterra deu um ar de nobreza àquela geração de
vencedores. A dignidade da Seleção atingiu um grau tão elevado que no fim do
jogo o capitão Bob Moore humildemente pediu a camisa de Pelé como lembrança.
Mesmo sem entender inglês, o maior jogador do mundo entendeu o gesto do
adversário. Claro, são outros os tempos. Bob Moore já morreu, Pelé estará
vendo o jogo apenas como torcedor. O ex-jogador Luiz Felipe estará lá no
banco de reservas comandando nossas esperanças.
A Copa do Mundo não perdoa
erros; o castigo é o caminho de volta. Vamos ver se o Mundial perdoa
ou absolve os teimosos e turrões. Queira Deus que sim! Para mim, a final da
Copa do Mundo será na sexta-feira.