Há uma tênue separação entre sonho e realidade quando se trata de Copa do Mundo. Hoje, por exemplo, de um lado está a ansiedade, a esperança do povo de ver o Brasil mais uma vez campeão. É o sonho. Do outro lado, a taça que será entregue a quem chegar em primeiro lugar é a realidade. A separá-los uma delicada cortina de transparente cristal. É só estender a mão e recolher o troféu.
Falta apenas subir dois degraus representados pela Turquia e depois por Alemanha ou Coréia do Sul. Desfilando em frente à pureza do cristal multidões se agitam, rezam, dançam, e esperam. Puxando a procissão de sonhadores está a formidável torcida brasileira.
Para o nosso povo esse ainda é o momento supremo da elevação de nossa auto-estima. Quando se trata de futebol somos quase imbatíveis. É a hora do nosso grito de gol. Somos então um povo altivo, lúcido, corajoso, alegre e altaneiro. Eis que é chegado o momento de cantar nosso samba enredo, nosso samba exaltação. Ninguém nos segura e, convenhamos, nunca uma caminhada foi tão fácil. Nossa estrada em busca do título não teve pedras, nem espinhos. Calcamos nossos pés descalços ou não na poeira em busca do grande momento.
Houve um enorme esforço dos jogadores, brilhou o talento individual dos nossos craques, herança genética misteriosa herdada de uma considerável mistura de raças. A qualidade de cada um sobrepujou a falta de conjunto, a magia do toque superou a teimosia do técnico. Quando alguma coisa nos faltou apareceu o apito amigo de um caridoso juiz coreano ou vindo da Jamaica.
Estamos quase lá, nunca foi tão fácil. Na mais surpreendente das Copas, a Seleção Brasileira já está em quarto lugar. Quase sempre foi assim. Já fomos até “campeões morais” ficando em terceiro lugar invictos (1978 na Argentina). Quando fracassamos obtivemos a quinta colocação debaixo de aplausos (1982 na Espanha). Quando decepcionamos ficamos como agora na quarta colocação (1974 na Alemanha).
É a nossa história, é o destino do nosso futebol. A fantástica torcida brasileira tem todo o direito de comemorar. A taça da Copa do Mundo está logo ali. É só pegar com as duas mãos.