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Abel Ferreira dá bom exemplo ao se desculpar por expressão racista

Treinador do Palmeiras usou gíria depreciativa contra povos indígenas, mas emitiu comunicado se retratando pelo erro

12 jul 2024 - 16h28
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Após fala preconceituosa, o técnico Abel Ferreira pede desculpas aos indígenas
Após fala preconceituosa, o técnico Abel Ferreira pede desculpas aos indígenas
Foto: Cesar Greco/SEP

Em deslize cometido durante coletiva de imprensa após a vitória do Palmeiras sobre o Atlético-GO, nesta quinta-feira, Abel Ferreira utilizou expressão obsoleta e preconceituosa ao explicar o apreço de seu time pela organização defensiva e exaltar a importância do volante Aníbal Moreno.

“Não é uma equipe de índios”, afirmou o treinador, para em seguida sublinhar que o Palmeiras é um time organizado e com equilíbrio defensivo. Em primeiro lugar, o termo “índio” se tornou antiquado e carrega histórica conotação depreciativa. As identificações mais apropriadas atualmente são “povos indígenas” ou “indígenas”.

Por outro lado, a expressão “time de índio” sempre foi banalizada como uma gíria da bola em referência a equipes mal organizadas ou taticamente frágeis. Em 2019, Abel Braga, então técnico do Flamengo, também recorreu ao jargão preconceituoso ao justificar a necessidade de maior atenção ao sistema defensivo rubro-negro.

Relacionar povos indígenas a estereótipos pejorativos, como ocorre em outra expressão de uso corriqueiro, “programa de índio”, é uma manifestação de racismo, ainda que não se tenha a intenção de ofender a coletividade indígena. Ao ser alertado sobre a carga discriminatória do termo no Brasil, Abel Ferreira tentou se esquivar num primeiro momento, dizendo repudiar toda forma de preconceito, porém sem reconhecer o equívoco.

Já no início da tarde desta sexta, o treinador do Palmeiras emitiu um novo comunicado se retratando pela fala preconceituosa. “Infelizmente, há expressões que continuamos a perpetuar sem que nos debrucemos sobre o seu conteúdo. Errei ao usar uma dessas expressões na coletiva de imprensa. Peço desculpa a todos e, em especial, às comunidades indígenas”, escreveu o técnico.

Abel poderia ter insistido no erro e se amparado no fato de outros treinadores e jogadores brasileiros terem utilizado a mesma expressão anteriormente, mas demonstrou grandeza e humildade ao refletir sobre o deslize. Geralmente, quando confrontadas por reproduzir estereótipos racistas, a maioria das pessoas tem dificuldade de assumir falhas e prefere abraçar de vez a ignorância a desconstruir preconceitos enraizados.

Quando alguém aponta um comportamento preconceituoso, o melhor caminho é buscar a autocrítica sincera para evoluir como ser humano, a exemplo de Abel Ferreira. Não foi preciso cancelar o técnico nem pregar em sua testa o rótulo de racista. Ao perceber o erro, de cabeça fria depois do calor de uma partida, o técnico português dá um bom exemplo à comunidade do futebol.

Mostra que todo ser humano é passível de erros e deve estar aberto a refletir sobre as mudanças sociais. Que, por mais batidas que sejam, algumas expressões contribuem para a perpetuação de preconceitos e precisam ser abolidas não só do contexto do esporte, mas do vocabulário popular como um todo. E que, ainda mais pelo histórico de extermínio, violências e massacres encampados pela colonização, respeito é o mínimo que os povos indígenas merecem.

Fonte: Breiller Pires Breiller Pires é jornalista esportivo e, além de ser colunista do Terra, é comentarista no canal ESPN Brasil. As visões do colunista não representam a visão do Terra.
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