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Antero Greco deixa como legado a arte de conciliar jornalismo, política e bom humor

Consagrado pela dupla com Amigão no Sportscenter, decano jornalista da ESPN nunca abriu mão do senso crítico ao cobrir o esporte

16 mai 2024 - 18h17
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Com mais de 30 anos de ESPN, Antero lutava contra um tumor no cérebro
Com mais de 30 anos de ESPN, Antero lutava contra um tumor no cérebro
Foto: Arquivo pessoal

Nesta quinta-feira dolorosa para o jornalismo esportivo, que lamenta as mortes de ícones como Washington Rodrigues, o Apolinho, e Silvio Luiz, peço licença aos leitores da coluna para escrever em primeira pessoa e sobre uma perda que sinto em dobro, por termos trabalhado tanto tempo juntos na ESPN. Me refiro a Antero Greco, que partiu na madrugada, aos 69 anos.

Pouco antes da pandemia, cobri Antero no tradicional Sportscenter da madrugada durante um período de licença médica que durou algumas semanas. Como era simplesmente impossível substituir à altura o jornalista que ocupava aquela cadeira havia mais de duas décadas ou reproduzir sua dobradinha mágica com Paulo Soares, o Amigão, a maior dupla da história da TV brasileira, eu só pensava em comprometer o mínimo possível naqueles dias como suplente.

Em pouco tempo, descobri que ninguém jamais será capaz de igualar o Sportscenter que, com eles, repercutia muito além do esporte. Tinham uma conexão genuína, um carinho recíproco como se fossem amigos de infância.

De casa, enquanto se recuperava, Antero assistia ao programa e sacaneava com o apresentador. Ligava todos os dias para dizer que sentia falta do Amigão, que perguntava se ele estava melhor e se já tinha previsão de voltar ao batente. Quando desligavam, o Amigão sorria e mostrava o identificador de chamadas do telefone — como se eu não soubesse quem estava ligando.

Esse período no Sportscenter foi um dos mais felizes que vivi na ESPN. Não só pela acolhida da dupla e de toda a equipe do programa, mas também pelo privilégio de compreender as virtudes que os tornaram pessoas tão queridas. No dia da volta do Antero após a licença, eles caíram na gargalhada ao noticiar as contratações dos técnicos Moreno Longo e Rolão Preto. Ri junto com eles, novamente como espectador.

Antero não foi só um exemplo de jornalista, que, mesmo sem abrir mão da leveza, nunca deixou de ser sério, crítico e combativo, como manda o bom jornalismo. Também era um exemplo de trabalhador politizado e com consciência social.

Várias vezes, depois de participarmos do saudoso Bate-Bola, perdemos a hora debatendo sobre os rumos da profissão e do país. Com posicionamentos firmes, ácidos, mas sem jamais perder a ternura, Antero deixa como legado a arte de conciliar jornalismo, política e bom humor. Para ele, o esporte nunca foi “só” esporte. Era seu meio de expressão como cidadão e como pessoa, tão carismático quanto responsável ao exercer o ofício.

Foi um prazer dividir as mesmas trincheiras com Anterito, o que, para mim, soava como o melhor indicativo de estar do lado certo. Descanse em paz, camarada! Que os céus te recebam com o mais bello tapete verde.

Fonte: Breiller Pires Breiller Pires é jornalista esportivo e, além de ser colunista do Terra, é comentarista no canal ESPN Brasil. As visões do colunista não representam a visão do Terra.
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