Assim como Tite, Dorival ignora vozes do campo em convocação
Lista para os próximos jogos da seleção pelas Eliminatórias segue com a mesma lacuna escancarada em atuações mais recentes
“O campo fala.” Com essa metáfora, Tite, então técnico da seleção brasileira, explicou a escolha por Rodrygo jogando por trás dos atacantes na Copa do Mundo de 2022, em alusão à boa resposta do atacante do Real Madrid ao executar a função de armador.
Quase dois anos depois daquele Mundial, em que o Brasil acabou eliminado para a Croácia nas quartas de final, Dorival Júnior é quem ocupa o cargo de treinador da seleção e, tal qual Tite, aposta em Rodrygo mais como um meia do que como um atacante de ofício.
Contando com o craque revelado pelo Santos, a convocação de Dorival para os jogos contra Chile e Peru, pelas Eliminatórias sul-americanas, tem oito atacantes. A posição do camisa 9 de área segue variável. Com Pedro lesionado, a bola da vez é Igor Jesus, destaque do Botafogo na temporada.
A profusão de atacantes contrasta com a escassez de meio-campistas – apenas quatro figuram na lista divulgada nesta sexta-feira. André, Bruno Guimarães, Gerson e Paquetá, juntamente com Rodrygo, têm a missão de sanar as principais carências do time sob o comando de Dorival.
Desde que Casemiro deixou de ser convocado, a seleção perdeu sustentação defensiva, assim como a saída de bola mais limpa. O meio ainda não encaixou e, sem Neymar à disposição, é latente desde a Copa América a carência de criatividade na construção de jogadas, do primeiro volante ao ataque.
Há opções que poderiam destravar o meio-campo ou, no mínimo, oferecer mais alternativas de variações para o segundo tempo, mas que Dorival segue ignorando. Matheus Pereira, camisa 10 do Cruzeiro e um dos melhores da posição no Campeonato Brasileiro, merecia ser testado, da mesma forma que Andreas Pereira deveria receber outras oportunidades, já que o futebol apresentado por Paquetá não tem justificado seu status de intocável no grupo.
Mais atrás, Léo Ortiz seria um nome interessante para melhorar a saída de bola na zaga ou na proteção da defesa pelo meio, como tem jogado no Flamengo. Tite pagou caro por não bancá-lo na partida de ida contra o Peñarol, e a eliminação do time rubro-negro na Libertadores passa muito pela incapacidade de ouvir as vozes do campo, contrariando uma das metáforas preferidas do ex-técnico da seleção.
Dorival precisa retomar não só a coesão e a organização tática da era Tite, mas também a capacidade de criação no setor-chave do campo. Não adianta ter oito opções de atacantes se a equipe apresenta dificuldade em municiá-los. Menosprezar o vácuo de repertório do meio e as vozes que gritam por um leque maior de variedade no setor pode cobrar o mesmo preço que seu antecessor agora amarga de volta ao comando de um clube.