Script = https://s1.trrsf.com/update-1734630909/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Ausência de técnicos e presidentes negros é reflexo da estrutura racista no futebol

Comando dos clubes e federações continua monopolizado por brancos incapazes de implementar políticas verdadeiramente inclusivas

20 nov 2023 - 14h44
(atualizado às 14h52)
Compartilhar
Exibir comentários
Roger Machado está desempregado desde que foi demitido do Grêmio, há mais de um ano
Roger Machado está desempregado desde que foi demitido do Grêmio, há mais de um ano
Foto: Lucas Uebel/Grêmio

É simbólico que neste 20 de novembro nenhum dos 20 clubes de primeira divisão no Brasil seja dirigido por treinador ou presidente negro. O futebol de tantos ídolos pretos segue restrito ao comando dos brancos.

Ronaldo, ex-jogador que comprou o Cruzeiro, é o único dono negro entre clubes que viraram SAF. Já a presidência da associação está a cargo de Sergio Santos Rodrigues. Para ocupar seu lugar a partir de janeiro do ano que vem, foi eleito o conselheiro Lidson Potsch, que também é branco. Em julho, o clube criou um Comitê de Inclusão e Diversidade, com ampla maioria de integrantes brancos.

No Vasco, que se orgulha de ter sido o primeiro clube esportivo brasileiro a eleger um presidente negro e da Resposta Histórica, ocasião em que se recusou a disputar um campeonato como afronta à liga que reivindicava a exclusão de seus atletas pretos, em 1924, protagonizou uma eleição recente – vencida pelo ex-jogador Pedrinho – sem nenhuma chapa encabeçada por candidato negro. 

Os casos de Cruzeiro e Vasco resumem como dirigentes que monopolizam o comando de clubes e federações têm sido incapazes de implementar políticas verdadeiramente inclusivas no futebol. Muitos publicam posts e divulgam ações especiais para o Dia da Consciência Negra, mas boa parte seguirá normalizando a ausência de pessoas negras no alto escalão.

Há um evidente privilégio a brancos em posições de liderança, reflexo de um país onde só 5% dos cargos executivos em grandes empresas são ocupados por negros. A diferença é que, ao contrário do mundo corporativo, o futebol não pode se apegar à desculpa batida de que “faltam profissionais negros qualificados no mercado”.

O que explica a escassez de técnicos e executivos negros sendo que a maioria dos que ocupam essas funções é composta por ex-jogadores que, em boa medida, também provêm das classes desfavorecidas? Na hora de ascender a posições de comando após pararem de jogar, a proporção de brancos é muito maior que a dos negros que conseguem dar esse salto.

Debate sobre criação de liga no Brasil é protagonizadp por maioria de homens brancos
Debate sobre criação de liga no Brasil é protagonizadp por maioria de homens brancos
Foto: Rodrigo Corsi/FPF

Diante de uma inegável estrutura racista, a implementação de cotas raciais para o alto escalão do futebol representaria o primeiro passo para iniciar o desmonte do racismo estrutural. Um movimento que deveria ser capitaneado pela CBF, que, além de exigir que os clubes entrevistem profissionais negros para cargos executivos e de treinador, deveria se responsabilizar pela garantia de oportunidades a profissionais que buscam formação.

O curso de treinadores, requisito para exercer a profissão, por exemplo, é inacessível para a maioria da população. Conseguir todas as licenças exigidas para treinar equipes profissionais demanda um investimento de aproximadamente 50 mil reais. Boa parte do público interessado não é de ex-jogadores consagrados nem ostenta reserva financeira para arcar com os custos.

Regido pela CBF, que finalmente tem um presidente negro, o baiano Ednaldo Rodrigues, o curso poderia ser o marco na política de cotas do futebol ao oferecer bolsas para minorias étnicas. Isso, sim, seria uma ação antirracista mais efetiva e transformadora que campanhas em rede social neste 20 de novembro.

Ter consciência negra implica em reconhecer e mudar radicalmente a estrutura racista do futebol que impede não somente a ascensão, mas também a consolidação de profissionais negros. Enquanto o comando continuar sob exclusividade dos brancos, nenhuma medida será suficiente para camuflar o racismo escancarado à beira e fora do campo.

Fonte: Breiller Pires Breiller Pires é jornalista esportivo e, além de ser colunista do Terra, é comentarista no canal ESPN Brasil. As visões do colunista não representam a visão do Terra.
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade