Brasil precisa adaptar receita argentina para Vini Jr. se tornar protagonista
Dorival substitui craque do Real Madrid, que segue sem reproduzir o mesmo desempenho do clube na seleção
Candidato a melhor jogador do mundo nesta temporada, Vinicius Jr. ainda não consegue ser tão decisivo na seleção brasileira como no Real Madrid. Contra a Costa Rica, o atacante pouco produziu, juntamente com todo o sistema ofensivo armado por Dorival Júnior para a estreia na Copa América, que terminou em um decepicionante empate sem gols.
Vini acabou substituído aos 25 minutos do segundo tempo. Ao fim da partida, justificou o baixo rendimento pela troca de função em campo. Começou aberto pela esquerda, posição em que mais se destacou no clube merengue, mas, diante de um adversário que marcava com todos os jogadores atrás da linha da bola, foi deslocado para o centro ainda no decorrer da primeira etapa.
Embora já tenha feito ambas as funções no Real Madrid, os mecanismos de ataque e movimentações são diferentes na seleção. Carlo Ancelotti passou a utilizá-lo em um esquema com dois atacantes, mas deu liberdade para que se deslocasse do centro para a ponta, sobretudo ao receber passes em profundidade.
Na seleção, quando atua pela esquerda, com dois ou três marcadores em seu encalço, Vini geralmente puxa para o meio, prescindindo do espaço para arrancadas e jogadas individuais pelo corredor. Já ao se posicionar mais centralizado, acaba recebendo a maioria dos passes de costas para o gol, o que dificulta seu jogo em velocidade.
Fora as diferenças de posicionamentos, é inegável que Vini Jr. segue sem reproduzir o mesmo desempenho do clube na seleção. Desde a era Tite, parece mais retraído e menos confortável ao vestir a camisa amarela. Ainda falta a personalidade inquieta do driblador que não se exime de tentar outra vez mesmo após desarmes e erros em tomada de decisão no Real Madrid.
Nem todos os craques têm facilidade para manter o rendimento do clube em suas respectivas seleções, ainda mais quando uma equipe é melhor treinada e organizada que a outra. Aconteceu com Lionel Messi, na época do Barcelona. Por muito tempo, embora fosse o melhor jogador do mundo, o astro foi tratado com desdém e menosprezo na Argentina por não repetir pela seleção as atuações mágicas a favor do Barça.
Somente a partir de 2011, com a chegada de Alejandro Sabella ao comando da albiceleste, Messi começou a ser, de fato, protagonista. O técnico deu a braçadeira de capitão ao craque, que saiu da ponta direita e passou a jogar mais centralizado, como já fazia muitas vezes no Barcelona. “Quanto mais bolas ele receber, melhor”, dizia Sabella ao argumentar sobre a mudança de posicionamento.
Dessa forma, Messi foi fundamental ao liderar a equipe que se classificou com tranquilidade nas Eliminatórias sul-americanas e chegou à final da Copa do Mundo disputada no Brasil, em 2014. Apesar de não ter conquistado o título, o craque saiu do Mundial com outro status para os argentinos, finalmente convencidos de sua capacidade de fazer a diferença pela seleção.
Ainda que em contexto distinto, Dorival precisa adaptar a receita argentina para aproveitar o melhor de Vini Jr. Não há necessidade de promovê-lo a capitão, mas, sim, de fazer, muito além do discurso, que ele se sinta confortável, encorajado e protagonista na seleção.
Sacar o melhor jogador do time aos 25 do segundo tempo com o placar em 0 a 0 pouco contribui para isso, até porque o ataque não prosperou após sua saída. Mais do que adaptar o posicionamento, o técnico tem a obrigação de entender o que atrapalha um atleta a render na seleção. E isso também passa por atitudes que vão além do sistema tático.