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Brasil tirou muitas lições do 7 a 1, mas mostra que pouco aprendeu

Goleada histórica para a Alemanha completa 10 anos com seleção eliminada na Copa América e cada vez mais desacreditada

8 jul 2024 - 07h41
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Jogadores da Alemanha consolam brasileiros após o 7 a 1 no Mineirão
Jogadores da Alemanha consolam brasileiros após o 7 a 1 no Mineirão
Foto: Laurence Griffiths/Getty Images

Há exatos 10 anos, o Brasil sofria a maior goleada de sua história, o 7 a 1 para a Alemanha, que decretou a traumática eliminação da Copa do Mundo de 2014, em pleno Mineirão. Mais do que a queda no Mundial sediado em casa, a derrota representou um duro choque de realidade para o futebol brasileiro e trouxe muitas lições, dentro e fora de campo.

No entanto, uma década se passou, e os principais protagonistas do esporte mais popular do país mostram que pouco aprenderam com a aula imposta pelos alemães. Eliminada pelo Uruguai nas quartas de final da Copa América, nos pênaltis, a seleção brasileira agrava a crise técnica e de credibilidade detonada pela CBF.

Incapaz de se estabilizar após seguidos escândalos que, desde o 7 a 1, derrubaram três presidentes, a confederação segue atordoada sob a ignóbil gestão de Ednaldo Rodrigues. O atual mandatário desperdiçou um ano de preparação ao bancar a frustrada contratação de Carlo Ancelotti, enquanto entregou o comando da seleção aos interinos Ramon Menezes e Fernando Diniz.

Durante a administração do cartola, a seleção teve um dos piores anos de sua história, ao terminar 2023 com mais derrotas que vitórias. Pela primeira vez, o Brasil foi derrotado como mandante em uma partida de Eliminatórias sul-americanas – para a Argentina –, fechando a primeira parte da competição em sexto lugar.

Não bastasse o mau desempenho em campo, Ednaldo ainda acabou afastado do poder pela Justiça por suspeita de irregularidades no pleito em que se elegeu presidente. Após quase um mês de afastamento, o dirigente foi reconduzido ao cargo por uma liminar do STF e, logo no começo deste ano, depois de trocar Diniz por Dorival no comando da equipe principal, viu o Brasil ficar fora da Olimpíada com o fracasso do time sub-23.

Internamente, o futebol brasileiro continua assolado por graves problemas estruturais. Apesar dos novos estádios construídos para a Copa, a qualidade da maioria dos gramados ainda é deplorável, assim como o nível da arbitragem. O calendário de jogos permanece inchado, sem parar em todas as datas-Fifa. Enquanto os europeus já encerraram suas ligas durante a Eurocopa, o Campeonato Brasileiro segue a todo vapor mesmo com times esfacelados por convocações para a Copa América.

Marcelo Bielsa, técnico da seleção uruguaia, deu parte do diagnóstico sobre a perda de prestígio internacional do futebol sul-americano ao destacar os aspectos econômicos que fazem jovens jogadores se transferirem cada vez mais cedo para a Europa. Mas, no caso do Brasil, há agravantes como a incompetência crônica de gestão da CBF, a defasagem na formação de treinadores e, não menos relevante nesse pacote, a velha arrogância que prende a seleção às glórias do passado.

Na véspera das quartas de final da Copa América, o Uruguai produziu um vídeo motivacional com falas de jogadores brasileiros. Um deles, Andreas Pereira, afirmou que “se pegar nome por nome, a gente tem uma seleção que eles sonhariam ter no Uruguai”. Mesmo que a intenção fosse valorizar o Brasil, a fala do meia carrega desmerecimento ao momento melhor da Celeste, em segundo lugar nas Eliminatórias, 100% de aproveitamento na fase de grupos da Copa América e em estágio mais avançado que o Brasil sob o comando de Bielsa.

Andreas tentou se explicar depois da eliminação, mas apenas confirmou o menosprezo velado apontado pelos uruguaios. “Eu sei que dói pra muita gente ver as 5 estrelas no nosso peito.” Assim como boa parte dos brasileiros, muitos jogadores da atual geração não conseguem enxergar como essa soberba embolorada de nostalgia só reforça a perda de status da seleção. 

Em 2014, a expressão “todo dia um 7 a 1 diferente” foi consagrada como ditado popular para verbalizar a resignação do torcedor com cada notícia desanimadora sobre o futebol brasileiro. Uma década depois da maior goleada já sofrida por um anfitrião de Copa, a impressão é que o Brasil do futebol nada aprendeu com a ferida que expôs o desvario de nossa autoestima futebolística e que teima em não cicatrizar.

Fonte: Breiller Pires Breiller Pires é jornalista esportivo e, além de ser colunista do Terra, é comentarista no canal ESPN Brasil. As visões do colunista não representam a visão do Terra.
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