CBF morde a isca e valida teoria da conspiração palmeirense
Ao rebater reclamação de auxiliar técnico do Palmeiras, confederação oferece munição ao ataque do clube contra o “sistema”
A CBF resolveu rebater as declarações do auxiliar técnico do Palmeiras, João Martins, que insinuou a existência de um suposto complô — ou “sistema”, de acordo com suas palavras — para impedir que o time alviverde continue enfileirando títulos sob o comando de Abel Ferreira. Na nota oficial, a confederação diz enxergar contornos xenofóbicos nas críticas do profissional palmeirense.
Depois do empate com o Athletico, o substituto do técnico Abel Ferreira, suspenso por ter tomado o celular de um jornalista, reclamou — com razão — da não expulsão do zagueiro Zé Ivaldo, que acertou uma cotovelada em Endrick aos 3 minutos de jogo, dentro da área. Mesmo após revisar o lance pelo VAR, o árbitro Jean Pierre Gonçalves Lima deu somente amarelo para o zagueiro atleticano e marcou o pênalti a favor do Palmeiras.
Porém, ao longo de seu pronunciamento, Martins subiu o tom, exagerou nas críticas ao futebol brasileiro e jogou para a torcida ao afirmar que “é ruim para o sistema o Palmeiras ganhar [o Brasileirão] dois anos seguidos”. Na réplica, a CBF, por sua vez, pesou a mão ao forçar a barra e qualificar as queixas desmedidas do treinador como xenofobia.
No mesmo dia, o técnico Luiz Felipe Scolari, do Atlético-MG, também insinuou a existência de um esquema na arbitragem para advertir Hulk, o craque do seu time, que havia sido expulso no fim do clássico com o América. Ao contrário de João Martins, Felipão não foi alvo de nota oficial nem repreendido publicamente pela entidade.
O deslize institucional da CBF oferece a Abel Ferreira e sua comissão técnica a validação necessária para confirmar, ao menos entre torcedores palmeirenses, a teoria conspiratória de que forças ocultas trabalham de forma articulada para prejudicar o clube, que aproveitou a deixa e rebateu a confederação listando outros erros de arbitragem contra o Palmeiras.
E assim perpetua-se o círculo vicioso do futebol brasileiro, em que, pela mentalidade de dirigentes e profissionais do meio, mais vale alimentar o descrédito de um suposto “sistema” a reivindicar mudanças concretas na estrutura que acaba prejudicando todos os clubes, não apenas um.