Com Sampaoli insustentável, só resta ao Flamengo uma cartada de desespero para o jogo no Morumbi
Técnico argentino perde embate com Dorival e os próprios jogadores. Medida extrema do Galo há sete anos vira única esperança de salvação
A torcida do Flamengo fez vaquinha, preparou mosaico gigante na arquibancada e lotou o Maracanã, mas, apesar de todo esforço, acabou “presenteada” com mais uma atuação insossa do time de Sampaoli no primeiro jogo da final da Copa do Brasil.
Na etapa inicial, nem parecia que o clube rubro-negro disputava uma decisão contra o São Paulo, muito mais intenso e organizado em campo. O ataque formado por Pedro, Bruno Henrique e Gabigol praticamente não viu a cor da bola. A exceção foi uma escapada pela esquerda, com Gerson acionando Bruno Henrique, que teve tentativa de passe para Gabi interceptada por Beraldo.
Sem a menor ideia de como brecar os avanços de Caio Paulista, o Flamengo sofreu com inversões de bola dos são-paulinos para o lado esquerdo, que, quando não encontravam o lateral explorando as costas de Wesley e os espaços deixados por Gabigol, chegavam aos pés de Rodrigo Nestor, opção acertada de Dorival Júnior na vaga de Luciano.
Por ali, o São Paulo ensaiou por pelo menos três vezes a jogada que, aos 45 minutos do primeiro tempo, resultaria no gol de Calleri após belo cruzamento de Nestor. Sampaoli, é bem verdade, não fechou os olhos para a deficiência de marcação. Tentou mudar o posicionamento de Gabigol, puxar Victor Hugo para a cobertura de Wesley e, por fim, inverter Bruno Henrique de lado. Mas nada bastou para estancar as sangrias de recomposição de sua equipe.
Incorrespondido pelos jogadores, que chegaram a se reunir a portas fechadas e isolados da comissão técnica na véspera do jogo, o técnico argentino abandonou o gramado antes mesmo do fim do primeiro tempo. Seja por desconsolo pelo desempenho da equipe, que simplesmente não conseguiu finalizar na meta defendida por Rafael, seja por revolta pelo gol sofrido antes do intervalo, a atitude de Sampaoli apenas escancarou o abismo entre comandante e comandados no Flamengo.
No segundo tempo, o Dorival se contentou em segurar o resultado para levar a decisão ao Morumbi, e não encontrou grande poder de reação do outro lado. Gabigol, apagadíssimo na decisão, saiu machucado, aumentando a lotação do departamento médico já ocupado por Arrascaeta e Luiz Araújo, desfalques do primeiro jogo. Everton Ribeiro ajudou a retomar a posse de bola, mas foi incapaz de criar situações claras de perigo.
Em 37 jogos à frente do Flamengo, Sampaoli jamais conseguiu imprimir sua identidade de jogo. Algumas de suas escolhas, como ter bancado Matheus Cunha de titular por saber jogar com os pés, se mostraram inócuas. O goleiro, por exemplo, tem falhado – e falhou mais uma vez – na saída de bola, além de ter ido mal no gol de Calleri.
Mas, a partir da agressão de um membro de sua comissão técnica a Pedro, o argentino perdeu sustentação com o grupo, que visivelmente já não responde a seus comandos. Se quiser ter alguma chance de virar o confronto no Morumbi, o Flamengo precisa tomar uma medida radical semelhante à do Atlético-MG, em 2016.
Depois de perder o primeiro jogo da final da Copa do Brasil por 3 a 1 para o Grêmio, no Mineirão, a diretoria do Galo demitiu o técnico Marcelo Oliveira antes do jogo de volta, em Porto Alegre. A aposta no interino Diogo Giacomini não foi suficiente para virar a final, mas, diante da conexão inexistente entre Sampaoli e elenco, não resta alternativa à diretoria rubro-negra ao tomar o mesmo caminho.
Já é sabido que Sampaoli não fica para a próxima temporada. Com a derrota e o desempenho deste domingo, além de estar a 12 pontos da liderança do Brasileiro, a única esperança é apelar a uma cartada desesperada, antecipar a demissão do argentino e recorrer ao técnico do sub-20, Mário Jorge, para tentar sacolejar o time para a partida no Morumbi.
Usar o treinador da base, que comandou o time na derrota para o Maringá, na estreia na Copa do Brasil após a demissão de Vitor Pereira, é melhor que seguir apostando em um trabalho que se esgotou, em todos os sentidos. Não será uma decisão difícil para a diretoria do Flamengo, que nunca se apegou a treinadores, tampouco a projetos de longo prazo no comando do futebol.
É pífio, sim, para o clube mais rico do país, mas é o fio de esperança para uma saída minimamente honrosa para a pior temporada rubro-negra na gestão de Rodolfo Landim, muito mais responsável que Sampaoli pelo fracasso esportivo e institucional de 2023.