Contratação de Depay encobre escândalo com patrocinadora do Corinthians
Acerto com atacante holandês vira cortina de fumaça para mais um passo arriscado da tumultuada gestão Augusto Melo
Ninguém em sã consciência questiona que um dos times de primeira divisão que mais cria chances de gol e menos converte precisa de um grande reforço no ataque. Logo, a encaminhada contratação de Memphis Depay, jogador com duas Copas do Mundo no currículo, tem motivos para gerar euforia e expectativa no torcedor corintiano.
Referência da seleção holandesa, o atacante de 30 anos é melhor que todas as opções à disposição do técnico Ramón Díaz. Embora não seja um centroavante típico e tenha sido reserva em sua passagem pelo Atlético de Madri, reúne características para resolver o problema da falta de efetividade no ataque do Corinthians. Se for capaz de emendar um sequência de jogos sem lesões, aumenta – e muito – o poder de fogo do time que luta contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro.
Tecnicamente, não há o que discutir sobre o reforço. Porém, a operação para trazê-lo da Europa para o futebol brasileiro é arriscada sob vários aspectos. A contratação encobre o escândalo da Esportes da Sorte, patrocinadora máster do Corinthians, investigada por crimes financeiros e lavagem de dinheiro pela Polícia Civil de Pernambuco.
Darwin Henrique da Silva Filho, dono da casa de apostas, se entregou às autoridades e foi preso na última quinta-feira. Na operação, também tiveram prisão decretada a advogada Deolane Bezerra e o empresário José André da Rocha Neto, proprietário da Vai de Bet, outra plataforma de apostas que patrocinou o Corinthians nesta temporada até o rompimento do acordo por suspeitas de repasses irregulares a laranjas.
As investigações sobre a Esportes da Sorte, que substituiu a Vai de Bet na camisa corintiana, podem ser determinantes na engenharia financeira que avaliza a chegada de Memphis Depay. De acordo com membros da cúpula do clube, boa parte do montante investido na contratação do holandês, estimado em cerca de 70 milhões de reais entre o pagamento de salários, bônus e luvas pelo contrato até o fim de 2026, sairá de uma verba destinada a reforços de impacto prevista pela patrocinadora.
Na gestão passada, o Corinthians pagou caro por confiar que a Taunsa, o patrocínio mais alardeado pelo ex-presidente Duílio Monteiro Alves, bancaria os salários de Paulinho. Como a empresa, sem nenhum lastro de investimento no meio esportivo, não honrou o acordo, coube ao clube arcar com as despesas enquanto o atleta esteve inativo durante duas graves lesões, inflando ainda mais a dívida que já ultrapassa os 2 bilhões de reais.
Mais uma vez, a diretoria alvinegra, agora comandada por Augusto Melo, arrisca alto para reforçar a equipe, apostando que a patrocinadora, comprometida em injetar 300 milhões de reais pelo acordo de três temporadas, sairá ilesa das investigações. Pressionado pela ameaça de impeachment e de rebaixamento, o presidente precisa torcer por muitos gols de Depay e pela sorte a seu favor para a conta fechar.