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Corinthians não evolui e sinaliza que a farra está longe de acabar

Fase ruim prolongada mina a paciência de torcedores corintianos, cada vez mais descrentes em uma volta por cima do clube

24 abr 2024 - 10h58
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Rubão e Augusto Melo protagonizam crise política que acirra a má fase corintiana
Rubão e Augusto Melo protagonizam crise política que acirra a má fase corintiana
Foto: Lance!

O Corinthians de António Oliveira estagnou. Com a derrota por 1 a 0 para os reservas do Argentinos Juniors, o time já soma quatro jogos seguidos sem marcar um gol sequer e vê as pretensões de classificação na Copa Sul-Americana se complicarem, além de somar apenas um ponto no Campeonato Brasileiro.

Situação que soa como um filme repetido para o torcedor corintiano, em eterno looping entre sopros de esperança e a certeza da frustração. Sai técnico, entra técnico e o Corinthians simplesmente não engrena, não encanta, não passa confiança. À exceção do vice da Copa do Brasil em 2022, sob o comando de Vítor Pereira, os últimos anos têm sido uma sequência de fracassos esportivos, algo injustificável para o segundo clube de maior torcida e que tem um dos elencos mais caros do país.

Depois da gestão de Duílio Monteiro Alves, que amargou três anos sem títulos, a esperança da torcida foi novamente revigorada a partir da eleição de Augusto Melo, opositor que desbancou a dinastia de mais de 15 anos do grupo Renovação e Transparência. Com discurso altaneiro e megalomaníaco, o novo presidente prometeu muito, mas, até agora, entregou pouco.

Não bastasse ter torrado mais de 100 milhões de reais em contratações e, ainda assim, acabar eliminado na fase de grupos do Paulista, Augusto Melo agora precisa desatar os nós de uma crise político-administrativa. Em rota de colisão com Rubão, vice de futebol e seu maior aliado durante o período eleitoral, o inexperiente cartola pode implodir o mandato dependendo das decisões que vier a tomar nos próximos dias.

Qualquer governo de coalizão que tenha unido forças com outras correntes partidárias a fim de vencer um pleito carece de um líder com reconhecida habilidade política para ter sucesso ao chegar ao poder. Augusto Melo tem demonstrado não ter nem apoio interno nem traquejo para lidar com os meandros do futebol, ainda mais no caldeirão efervescente de um clube de massa como o Corinthians.

Por outro lado, também escancara a falta de conhecimento técnico na gestão esportiva, principalmente pela exposição desnecessária em seu início de mandato. Mesmo com uma dívida bilionária para equacionar, cansou-se de prometer o que não podia cumprir e inflou as expectativas da torcida, que, em menos de quatro meses de temporada, exige uma virada de chave que ainda está distante da prática.

Assim como o antecessor no cargo, Melo recorreu à decisão fácil e populista de trocar o treinador. Demitiu o experiente Mano Menezes para apostar em António Oliveira, que, embora promissor, encara seu primeiro trabalho em uma equipe da dimensão do Corinthians em meio a uma enroscada transição política.

Tal qual ocorreu das outras vezes, o novo técnico agradou no início ao recuperar a confiança do time, abalada por cinco derrotas consecutivas no Estadual. No entanto, tem pecado na etapa em que quase todos os treinadores anteriores tropeçaram, que é estabelecer uma identidade de jogo e a consistência de desempenho. Oliveira é o menor dos culpados, mas, mantido o círculo vicioso da última gestão, certamente não demorará a ser rifado por diretoria e torcida caso a irregularidade de resultados permaneça.

O looping pernicioso do desalento é bastante visível em campo. Com a fase ruim prolongada, a corda tende a arrebentar sempre do mesmo lado. Os mais experientes, como Cássio, que voltou a falhar contra o Argentinos Juniors, são tachados como grandes culpados – Gil que o diga, jogando em alto nível no Santos após ter sido descartado pela atual diretoria. Os mais jovens da base, como Wesley, único que consegue fazer algo diferente no ataque, são queimados pela falta de uma transição adequada.

No fim do ano passado, antes mesmo de assumir o cargo, Rubão proferiu a famosa frase “acabou a farra” em tom de ameaça à hegemonia recente de conquistas de Flamengo e Palmeiras. Hoje, sem lastro de bons serviços prestados ao departamento de futebol do clube, é o dirigente quem está ameaçado no cargo, um retrato fiel da desesperança corintiana.

Pelos rumos traçados fora do campo e pelo desempenho nas quatro linhas, se depender somente do Corinthians, a tal “farra” de Flamengo e Palmeiras está longe de acabar. Assim como a agonia dos torcedores alvinegros, presos no círculo de esperanças tão infladas quanto frustradas em um estalar de dedos, não importa quem esteja no poder.

Fonte: Breiller Pires Breiller Pires é jornalista esportivo e, além de ser colunista do Terra, é comentarista no canal ESPN Brasil. As visões do colunista não representam a visão do Terra.
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