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Da arbitragem ao gramado, Carioca se tornou o campeonato mais avacalhado do país

Antes conhecido como o “mais charmoso” do Brasil, Estadual do Rio de Janeiro agora coleciona mancadas que dilapidaram sua imagem

15 fev 2024 - 08h07
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Arbitragem tenebrosa mais uma vez rouba a cena no Cariocão
Arbitragem tenebrosa mais uma vez rouba a cena no Cariocão
Foto: Maga Jr/Agência F8/Gazeta Press / Esporte News Mundo

A arbitragem medonha no clássico Fluminense x Vasco só reforça como o Campeonato Carioca, antes conhecido como o “mais charmoso”, se tornou o torneio estadual mais avacalhado do país. Além da péssima exibição do árbitro Bruno Mota Correia, a partida também escancarou o vexame do Maracanã, que um dia foi considerado o “templo” do futebol nacional e volta a iniciar uma temporada com o gramado em condições precárias.

Gramado ruim, estádios sem estrutura, nível tenebroso de arbitragem, desorganização crônica, clubes grandes totalmente desunidos, clubes pequenos em estado falimentar... Atualmente, o Cariocão reúne o que há de pior em termos de requisitos mínimos para o espetáculo. E, ao contrário de outros Estaduais em regiões menos favorecidas, não é por falta de dinheiro, já que os direitos de transmissão do torneio ainda seguem rendendo cifras milionárias para os times e, principalmente, para os cofres da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ).

Pela tradição de seus clubes, a mística do Maracanã e a força econômica do Rio, é inadmissível que na relação proporcional de nível técnico x potencial como produto o Campeonato Carioca seja o Estadual mais esculhambado do Brasil. O que se viu no clássico desta quarta-feira representa uma crua amostragem do que a má gestão pode fazer com uma competição que tinha tudo para ser, no mínimo, tão valorizada quanto o Campeonato Paulista.

O Vasco, que depois de ter sido o único que não topou a divisão de receitas proposta pela FERJ e vendeu separadamente os direitos de transmissão de seus jogos, vem sendo sistematicamente prejudicado pela arbitragem nesta edição do torneio. Não foi diferente contra o Fluminense. O time cruzmaltino teve quatro pedidos de pênalti ignorados, um deles acatado pelo VAR, mas sonegado por Bruno Mota Correia, que manteve a decisão de não assinalar infração no toque com o braço de Germán Cano dentro da área.

Minutos antes, o árbitro também havia desprezado agressão de André em Zé Gabriel, sem bola, que deveria ter resultado no segundo cartão amarelo para o volante do Fluminense. A partir daí, Correia perdeu completamente o controle disciplinar da partida, sobretudo depois de expulsar ao modo aleatório Medel e Thiago Santos, que trocaram empurrões em meio à confusão generalizada.

Tamanho o descrédito da arbitragem do Rio de Janeiro que até mesmo o gol do Vasco anulado por impedimento, com o VAR traçando as linhas no meio-campo, desperta dúvidas sobre o mau uso da tecnologia pelo estafe da federação. Assim como o possível pênalti do vascaíno Medel, ainda no primeiro tempo, que torna controverso um aparente toque de mão dentro da área por falta de imagens esclarecedoras da transmissão.

No fim do jogo, o Vasco protestou mais uma vez contra a arbitragem e emitiu nota reclamando não só do árbitro, mas também do gramado do Maracanã, alvo de insatisfação de atletas e comissões técnicas inclusive de Flamengo e Fluminense, responsáveis pela administração do estádio. Em seu manifesto, a diretoria vascaína pontuou que “é lamentável assistir a decadência de um campeonato que já foi, e tinha tudo pra ser, o maior do Brasil”.

Não se pode ignorar que os absurdos sempre começam fora de campo. A FERJ, comandada há mais de duas décadas pelo anacrônico Rubens Lopes, chancelou a estafúrdia decisão de só disponibilizar o VAR em clássicos. Depois de erros seguidos em jogos do Vasco, reviu a medida e piorou o remendo, estendendo o árbitro de vídeo a todos os jogos entre os grandes — os pequenos que lutem.

Para completar, terceirizou a responsabilidade sobre a arbitragem e jogou para os clubes o ônus de escolher os árbitros dos clássicos, como quem diz “não tenho nada a ver com isso”. Quando, na verdade, a própria existência da FERJ após tantos disparates explica como o Estadual do Rio de Janeiro se tornou isso.

Há uma semana, Tite retificou sua opinião sobre o Campeonato Carioca ser “o mais forte do país”. O técnico do Flamengo logo percebeu, diante dos gritantes problemas estruturais, que havia se precipitado e exagerado nos elogios ao torneio. Quem mais chegou perto de uma leitura precisa foi o ex-atacante Fred, na época em que defendia o Fluminense.

Em 2015, depois de um Fla-Flu marcado por erros do apito, o ídolo tricolor fez barulho ao dizer que o Carioca “tem de acabar”. Tinha certa razão. Da forma como é organizado, o Estadual do Rio não pode mais continuar. Tem de acabar com gramado ruim, estádios sem estrutura, nível tenebroso de arbitragem, desorganização crônica, clubes grandes totalmente desunidos, clubes pequenos em estado falimentar... E isso passa pela implosão das engrenagens de poder da FERJ e a deposição dos fiadores de tamanha incompetência.

Fonte: Breiller Pires Breiller Pires é jornalista esportivo e, além de ser colunista do Terra, é comentarista no canal ESPN Brasil. As visões do colunista não representam a visão do Terra.
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