“E o VAR?” Em derrota para o São Paulo, Palmeiras mira arbitragem e não acerta o gol
Mais uma vez, palmeirenses usam lance polêmico para reforçar narrativa de perseguição
No campo das ciências humanas, é célebre a frase de que “a história se repete: a primeira vez como tragédia e a segunda, como farsa”. No embate mais recente do clássico entre São Paulo e Palmeiras, a máxima também parece se aplicar.
A vitória são-paulina por 1 a 0 no jogo de ida das quartas de final da Copa do Brasil, nesta quarta-feira, traça um roteiro que soa repetido. Reeditando o confronto das oitavas do ano passado, a vantagem e o placar são idênticos. Se antes do duelo de 2022 o Palmeiras havia superado o tricolor por 2 a 1 na véspera da partida, pelo Campeonato Brasileiro, o ensaio pela competição de pontos corridos deste ano terminou em 2 a 0 para os visitantes no Morumbi. E o São Paulo volta a mostrar poder de reação.
De trágico, na última edição, o erro do VAR que não traçou a linha de impedimento no lance em que Leandro Vuaden marcou pênalti de Gustavo Gómez em Calleri, já no jogo de volta, no Allianz Parque. Erro que tem motivado o Palmeiras, tanto via comissão técnica quanto por meio da diretoria, a dobrar a aposta na narrativa de que o clube é supostamente perseguido pelo “sistema”, como definiu o auxiliar João Martins após a partida contra o Athletico, em que a arbitragem também errou ao não expulsar o zagueiro Zé Ivaldo por uma cotovelada em Endrick.
Agora, a reclamação palmeirense gira em torno do lance em que o volante Pablo Maia, do São Paulo, tenta cabecear a bola, que acaba tocando acidentalmente em seu braço durante o movimento. Normal jogadores reclamarem e pedirem pênalti nesse tipo de jogada. O que foge ao comum é o perfil oficial do clube, com a partida ainda em andamento, forçar a barra e ironizar o VAR por não recomendar (dessa vez, acertadamente) a revisão do lance.
Que o Palmeiras tem razão em protestar contra erros cometidos pela arbitragem, como no jogo do ano passado e diante do Athletico, não há dúvida. Mas o time de Abel Ferreira pode acabar dando peso demais ao extracampo e negligenciando a realidade. Contra o São Paulo, a equipe não atuou bem, acertou somente uma bola no gol tricolor e sofreu mais que o dobro de finalizações do adversário — uma delas o golaço de Rafinha.
Como time aguerrido e acostumado a façanhas, apesar da derrota, o Palmeiras tem totais condições de repetir no mínimo a vitória no tempo normal jogando em casa, na partida de volta, tal qual em 2022. Desde que o apego à narrativa de perseguição não se sobreponha à necessidade de evolução da equipe, para que a história não se repita novamente como tragédia, muito menos como farsa.