Eliminação do Corinthians na Sul-Americana decreta fracasso completo da gestão Duilio
Gastando mal receita quatro vezes maior que a do Fortaleza, presidente corintiano terminará seu mandato sem um título sequer
O Fortaleza não deu chances para o Corinthians, se impôs nos dois duelos da semifinal e alcança sua primeira decisão continental na Copa Sul-Americana após vencer por 2 a 0 no Castelão.
Mesmo com Mano Menezes no lugar de Vanderlei Luxemburgo, o time alvinegro foi presa fácil para os donos da casa, que macetaram a meta de Cássio desde o começo do primeiro tempo – 19 finalizações, no total – e se aproveitaram da fragilidade adversária em bolas aéreas para matar o jogo na etapa complementar, com gols de Yago Pikachu e Tinga.
Resultado à parte, para entender a queda corintiana é fundamental se debruçar sobre a gestão de Duilio Monteiro Alves, que termina no fim do ano, mas, na prática, ao menos em termos de pretensões esportivas, já amarga um final infeliz. O presidente terminará seu mandato sem nenhum título com a equipe masculina principal, feito inédito entre mandatários do grupo Renovação e Transparência, que está no poder do Corinthians há 16 anos.
Para entender as últimas três temporadas frustrantes do clube é preciso voltar ao fim de 2019, um ano antes de Duilio se eleger à presidência. Como diretor de futebol no segundo mandato de Andrés Sanchez, ele se vendia como o sucessor de uma aliança política vitoriosa, porém, com ideias modernas e mente arejada.
Foi Duilio, ainda como diretor, o responsável por gastar quase 30 milhões de reais para contratar o meia Luan, um dos piores negócios já feitos pelo Corinthians. O plano era que o então ex-jogador do Grêmio fosse um dos pilares de uma completa mudança da identidade de jogo sob o comando de Tiago Nunes, que tornaria o time mais ofensivo depois de uma década em que o estilo conservador e reativo empilhou títulos para o clube.
Nada saiu como planejado. Na eleição de Duilio, Tiago Nunes já havia sido demitido, enquanto Luan se mostrava uma contratação equivocada. A partir daí, a gestão do presidente acabou pautada pela inépcia e falta de convicção no departamento de futebol. De Vagner Mancini a Sylvinho, de Vitor Pereira a Fernando Lázaro, o Corinthians se perdeu completamente entre técnicos de personalidades e perfis opostos.
O que era ruim se tornou trágico quando Duilio resolveu bancar a contratação de Cuca, desprezando protestos de torcedores e a condenação do treinador por violência sexual contra uma garota de 13 anos. Para isso, expôs e constrangeu o time feminino corintiano, um oásis de projeto bem-sucedido no organograma profissional do clube, que também questionou a diretoria pela aposta desastrada no técnico.
Filho de Adilson Monteiro Alves, ex-dirigente que ajudou a fundar a Democracia Corinthiana, Duilio jogou no lixo os valores defendidos pelo pai nos anos 1980 e manchou a história do clube ao dar de ombros aos apelos de sua torcida contra Cuca, que durou apenas dois jogos e pediu para sair após inúmeras manifestações pela demissão – que a diretoria, por sinal, jamais cogitou.
Nesse contexto, Vanderlei Luxemburgo voltou ao clube para apagar incêndio e capitanear um trabalho de contenção de danos. Fora o ambiente conturbado, o treinador encontrou vários obstáculos em sua missão. O principal deles, a debandada de atletas como Adson, Murillo e, sobretudo, Roger Guedes, então melhor jogador da temporada, motivada pela necessidade de fechar as contas.
Duilio defende que, apesar dos seguidos fracassos em campo, sua gestão será lembrada pela austeridade financeira, uma promessa de campanha na tentativa de diminuir o rombo deixado pelos antecessores do mesmo grupo político. Não bastasse ter iniciado o mandato com parte das finanças comprometidas pelo investimento em Luan e a folha salarial inchada pelo alto salário do meia, o presidente ainda resolveu rechear o elenco com os chamados “medalhões”.
No entanto, o custo-benefício dos reforços de peso fez o discurso de austeridade perder força. Renato Augusto, grande referência técnica da equipe, vive às voltas com lesões e passou em branco na queda para o Fortaleza. Willian, cria do terrão, saiu devido a ameaças de torcedores e não deixou saudades. Giuliano virou reserva de luxo. Paulinho, ídolo repatriado com pompas, sofreu duas graves lesões seguidas. O pior foi o “mico” da diretoria ao sustentar que o salário do jogador seria pago por um patrocinador – a fatídica Taunsa, que despachou a fatura para o clube.
A comparação com o Fortaleza, carrasco da vez, é ainda mais humilhante para o presidente corintiano. Ao longo dos seis anos de gestão à frente do time cearense, Marcelo Paz contratou apenas cinco treinadores, acertando em cheio com Rogério Ceni e, agora, com o argentino Juan Pablo Vojvoda.
Já Duilio teve sete técnicos em menos de três anos de administração, sendo quatro somente nesta temporada. Mesmo com orçamento quatro vezes menor, o mandatário tricolor montou um elenco mais equilibrado e confiável que o do Corinthians, uma aula de gestão, austeridade e projeto de futebol a longo prazo.
Duilio deixará o Corinthians com a dívida estabilizada no perigoso patamar de 1 bilhão de reais. Não aumentou, mas também não conseguiu reduzir consideravelmente os débitos que pressionam o caixa, a ponto de acumular pendências com outros clubes, empresários, ex-jogadores e até mesmo atletas do elenco, como Junior Moraes, que acionou o clube na Justiça por falta de pagamentos de FGTS e direitos de imagem.
E se engana o torcedor corintiano que pensa que a situação não pode piorar. As falas de campanha de André Luiz de Oliveira, candidato do Renovação e Transparência para a sucessão de Duilio, indicam que o futuro se desenha ainda mais preocupante.
Depois das eliminações para o rival São Paulo, na Copa do Brasil, e para o Fortaleza, na Sul-Americana, resta à atual gestão afastar as chances de rebaixamento no Campeonato Brasileiro. Com uma mancha institucional no meio do caminho, o fiasco esportivo do mandato sem títulos já está decretado.
Para dar uma resposta à torcida, o presidente havia lançado uma cortina de fumaça ao demitir Luxemburgo e tentar salvar a lavoura com Mano Menezes. Entretanto, ao fim de outra jornada frustrante para os corintianos, o maior responsável por mais uma temporada de jejum do Corinthians tem nome e sobrenome, para desgosto da família Monteiro Alves.