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Fernando Diniz, a versão à brasileira de Marcelo Bielsa

Técnicos adeptos de filosofias de jogo arrojadas confrontam estilo ofensivo de Brasil e Uruguai em Montevidéu

17 out 2023 - 10h52
(atualizado às 10h53)
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Bielsa e Diniz duelam à frente de Uruguai e Brasil nas Eliminatórias
Bielsa e Diniz duelam à frente de Uruguai e Brasil nas Eliminatórias
Foto: Divulgação/AUF/CBF

Pelos dois treinadores que estarão nos bancos do lendário estádio Centenario, em Montevidéu, o jogo entre Brasil e Uruguai pelas Eliminatórias sul-americanas promete um espetáculo de bom futebol. Nem tanto por craques como Neymar, Vinicius Jr. e Rodrygo ou Valverde, De La Cruz ou Darwin Nuñez que ambos têm à disposição, mas por filosofias de jogo que se pautam pela agressividade e o protagonismo com bola de suas equipes.

Ainda que existam inegáveis diferenças entre estilos, Fernando Diniz e Marcelo Bielsa conservam muitas semelhanças como técnicos. Se apegam não apenas à ideia de posse, controle e predisposição ofensiva, como também à importância da relação humana com os atletas e de convencê-los a comprar planos de jogo pouco convencionais em um esporte cada vez mais pragmático.

Tanto Diniz como Bielsa, mesmo de gerações distintas, podem ser considerados treinadores subversivos. Desde que começaram a carreira à beira do gramado, nunca se curvaram à lógica de que só a vitória interessa no futebol. Para eles, a maneira como se ganha um jogo vale tanto quanto o resultado, ainda que essa obsessão pela estética renda críticas ou repulsas ao trabalho.

Na Argentina, Bielsa foi tachado de “louco” por acreditar piamente em sua filosofia e pela coragem de seus times ao atacar. O currículo com poucos títulos também lhe pregou o rótulo de “fracassado” e de técnico imprudente no aspecto defensivo. Em seu início de trajetória com a seleção uruguaia, por exemplo, tem a segunda pior defesa das Eliminatórias, que levou cinco gols em três partidas.

Diniz sofre com as mesmas pechas no Brasil. Em quase 15 anos de carreira como treinador, só foi conquistar o primeiro título com um time grande este ano, o Campeonato Carioca pelo Fluminense. Apesar de ter conduzido o tricolor à final da Copa Libertadores, agora conciliando o cargo no clube com o de comandante interino da seleção brasileira, ele ainda é visto com restrições por torcedores e dirigentes adeptos do típico conservadorismo que perdura no futebol moderno.

Os rótulos não impediram que El Loco Bielsa se tornasse referência para uma legião de treinadores que se inspiraram em sua filosofia, como Pep Guardiola, Jorge Sampaoli e Marcelo Gallardo. Muitos deles se tornaram extremamente vitoriosos ao adaptarem o modelo de jogo bielsista.

Já no Brasil, o dinizismo é o que temos de mais semelhante ao modo de pensar futebol consagrado por Bielsa. Não necessariamente pela forma, mas sobretudo pela ousadia de romper com ideias, padrões e conceitos reacionários em torno do esporte. Pela capacidade de influenciar mudanças e evoluções do jogo, pautadas pela valorização de seu bem mais precioso: a bola.

Bielsa defende um mantra que resume o estilo talhado e aprimorado pelas derrotas.  “Sempre melhorei nos períodos de fracasso e piorei nos de êxito. O sucesso é enganador, nos deforma e nos torna mais egocêntricos”, costuma dizer o técnico argentino. Mas é uma frase de Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, hoje representado em campo pelo bielsismo, que melhor define a trajetória dos treinadores que duelam nesta terça-feira no Centenario.

“No fundo, não existe derrota: os únicos derrotados são aqueles que deixam de lutar.” Independentemente dos resultados alcançados por seus métodos, Diniz e Bielsa nunca deixaram de lutar pelos ideais de futebol que defendem.

Fonte: Breiller Pires Breiller Pires é jornalista esportivo e, além de ser colunista do Terra, é comentarista no canal ESPN Brasil. As visões do colunista não representam a visão do Terra.
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