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Fernando Diniz começa mal após ter bancado Antony na seleção

Novo treinador do Brasil se expõe ao relativizar grave denúncia de violência contra a mulher e acaba se vendo obrigado a cortar o jogador

4 set 2023 - 17h48
(atualizado às 18h31)
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Diniz se apresenta à seleção brasileira em Belém
Diniz se apresenta à seleção brasileira em Belém
Foto: Vitor Silva/CBF

Melhor técnico brasileiro em atividade, Fernando Diniz, apesar do currículo escasso em títulos, fez por merecer a oportunidade de comandar a seleção. Por ser inventivo, arrojado e adepto do futebol bem jogado, ele traz uma mudança de mentalidade necessária em um meio reacionário e refratário a novidades.

Porém, ao iniciar seu maior desafio na carreira, o treinador já cometeu um deslize que coloca em xeque sua capacidade de provar que pode realmente fazer a diferença no aspecto humano e comportamental dos atletas. 

Ao bancar a convocação de Antony, acusado de violência doméstica pela ex-namorada Gabriela Cavallin, Diniz não só se expôs de maneira imprudente, como também relativizou uma grave denúncia de agressão contra a mulher. Atitude que esvaziou seu discurso humanizado e mais atento às questões sociais. 

Formado em psicologia, o treinador sempre bateu na tecla sobre a necessidade de compreender o lado humano dos jogadores e a maneira como o futebol está intrinsecamente conectado à sociedade. Por esse tipo de abordagem e a forma como suas equipes jogam, chegou a ser tachado de louco e até mesmo como um profissional utópico demais.

Logo, de um técnico com ideias tão transgressoras para o ambiente machista e conservador do futebol, se esperava também uma sensibilidade maior em relação a temas que extrapolam o campo de jogo. Se esperava, principalmente, ainda mais à frente da seleção brasileira, que Diniz não negociasse com princípios básicos de ética e coerência.

Horas antes de sua primeira convocação, autoridades do Reino Unido anunciaram a abertura de investigação contra Lucas Paquetá, do West Ham, por suposto envolvimento em esquema de apostas. O técnico justificou que, a princípio, o meia estava entre os convocados, mas decidiu cortá-lo da lista por precaução.

Já a denúncia de Cavallin contra Antony aconteceu há mais de dois meses, sendo que o teor da maioria das acusações da ex-namorada já era conhecido antes da reportagem publicada nesta segunda-feira pelo portal UOL com áudios e prints de ameaças feitas pelo atacante do Manchester United. Entretanto, diferentemente da postura diligente com Paquetá, Diniz afirmou que o caso de Antony ainda era “incipiente”.

Em um meio dominado pelo machismo, não surpreenderia que a maioria dos técnicos, no lugar de Fernando Diniz, agisse da mesma forma, privilegiando o aspecto esportivo em detrimento de uma questão social relevante. Mas, novamente, de alguém com o histórico e o perfil do treinador do Fluminense, se esperava muito mais.

Diante da repercussão em torno do caso, Diniz se viu obrigado a cortar o jogador quando o estrago já estava feito. Tanto ele como a CBF poderiam ter evitado tamanho desgaste sem desrespeitar a presunção de inocência e o direito à ampla defesa de Antony. 

Infelizmente, ao menos no âmbito moral, o técnico começou sua trajetória na seleção sendo mais do mesmo. E perdeu a chance de mostrar um cartão de visitas humanitarista se, na contramão de boa parte dos seus pares, não tivesse menosprezado a gravidade de uma denúncia de violência contra a mulher.

Fonte: Breiller Pires Breiller Pires é jornalista esportivo e, além de ser colunista do Terra, é comentarista no canal ESPN Brasil. As visões do colunista não representam a visão do Terra.
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