Flamengo celebra Tite, Corinthians se contenta com Mano
Donos das maiores torcidas do país invertem treinadores de 10 anos atrás e evidenciam caminhos opostos traçados pelos dois clubes
Último comandante da seleção numa Copa do Mundo, Tite é o treinador brasileiro mais completo do momento. Tem currículo, títulos, capacidade técnica e de gestão de elenco e aprimorou seu repertório tático após conquistar o primeiro título de Libertadores para o Corinthians. Logo, apesar da identificação com a torcida alvinegra, é natural que tenha priorizado o Flamengo ao voltar ao mercado.
Por mais que o time rubro-negro seja uma máquina de rifar técnicos durante a gestão de Rodolfo Landim, incluindo o injustiçado e vencedor Dorival Júnior, assumir o clube de maior receita do país dá ao treinador a chance compensar as adversidades do ambiente com investimentos no elenco para a próxima temporada, além de poder trabalhar com atletas que convocou para a seleção e até mesmo para a Copa, como Everton Ribeiro e Pedro.
Hoje, o Flamengo é um clube mais atrativo que o Corinthians, vide o movimento feito por Vítor Pereira no ano passado ao trocar São Paulo pelo Rio de Janeiro. Por mais que ainda conserve o amadorismo parasitário em seu departamento de futebol, o rubro-negro montou o elenco mais caro da América do Sul e empilha conquistas desde 2019, à exceção desta fatídica temporada sem títulos.
Porém, 10 anos atrás, era o Corinthians quem ostentava o patamar de excelência no futebol brasileiro. Com Tite no comando, os corintianos somaram à conquista da Libertadores dois Brasileiros e o inesquecível Mundial de Clubes diante do Chelsea. Nessa época, Mano Menezes era treinador do Flamengo, que vivia uma fase de austeridade econômica visando a reestruturação financeira que só renderia frutos anos mais tarde.
A passagem de Mano pelo Ninho do Urubu não deixou saudades. Em três meses e 22 jogos, ele entregou o cargo com o time à beira da zona de rebaixamento no Campeonato Brasileiro. No fim daquele ano, retornaria – para o lugar de Tite – ao Corinthians, onde havia alavancado a carreira como treinador, mas não teve sucesso em sua segunda passagem.
Com papéis invertidos no cenário nacional, Flamengo e Corinthians veem seus caminhos se cruzarem novamente. Agora, combalido pela dívida de 1 bilhão de reais, o time paulista vive um jejum de quase quatro anos sem títulos. Desesperado por uma taça, a única aposta que restou é a Sul-Americana. Após o empate em casa contra o Fortaleza, a diretoria demitiu Vanderlei Luxemburgo em uma cartada de desespero.
Mirou Tite, que acabou pendendo ao Flamengo, e foi obrigada a apelar outra vez a Mano Menezes, mesmo que o presidente Duilio Monteiro Alves já tenha afirmado que, em sua gestão, o treinador não trabalharia. Não há lógica nem um plano esportivo por trás da contratação do técnico. Apenas um dirigente atormentado com a possibilidade de terminar o mandato sem um título sequer para contar história.
Os últimos trabalhos de Mano não indicam perspectiva animadora. Se mantiver o desempenho que apresentou em Palmeiras, Bahia e Internacional, a tendência é se aproximar mais da última (má) impressão deixada no clube que da passagem vitoriosa entre 2008 e 2010. Enquanto isso, Tite chegará ao Flamengo prestigiado e trazendo esperanças de recolocar a equipe nos trilhos das conquistas.
Dois técnicos vencedores, com passagens pela seleção e os times mais populares do Brasil, que, pelo momento de carreira, simbolizam a diferença que mudou os clubes de prateleiras na última década. O Flamengo, que fez sacrifícios para se organizar financeiramente, celebra a iminente chegada de Tite. O Corinthians, que seguiu se endividando e sangrando esportivamente, se contenta com Mano.