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Fluminense e Inter desconstroem estereótipo da Libertadores em jogo digno de Champions League

Com intensidade, organização e planos táticos arrojados, primeira partida da semifinal entregou tudo que prometeu

28 set 2023 - 03h04
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Diniz orienta Marcelo após gol do Internacional
Diniz orienta Marcelo após gol do Internacional
Foto: Gazeta Press

Por décadas, a Copa Libertadores foi tachada como um torneio moldado para times copeiros, mais afeitos ao futebol pegado que ao jogo bem jogado. O estigma perdura em linhas gerais, ainda que nos últimos anos a competição tenha se rendido ao predomínio de equipes com vasto repertório tático e ofensivo, a exemplo de Grêmio, River Plate, Flamengo e Palmeiras.

Nada melhor que um duelo como Fluminense e Internacional, que empataram por 2 a 2 na primeira parte das semifinais, para desconstruir de vez o estereótipo. Ambos os times já haviam protagonizado as melhores partidas do torneio em embates diante do River. Porém, o confronto desta quarta-feira no Maracanã não só entregou tudo que prometia, como também assume o posto de melhor jogo desta edição da Libertadores.

Mérito, principalmente, dos técnicos. Fernando Diniz escalou um Fluminense ainda mais ofensivo que a formação lançada contra o Olimpia, com Ganso recuado como volante e o quarteto Arias, John Kennedy, Keno e Cano. Do outro lado, Chacho Coudet optou por Hugo Mallo no lugar de Bustos na lateral direita, aparentemente uma opção mais conservadora.

O que se viu em campo desde o início foi uma insana trocação entre duas equipes obcecadas por atacar. Em apenas 10 minutos, três finalizações para cada lado. Sem se intimidar por jogar fora de casa, o Inter mostrou logo de cara que iria explorar as costas de Marcelo e Felipe Melo pela esquerda com o imparável Enner Valencia. Mas foram os tricolores que saíram na frente, em roubada de bola que terminou nos pés de Germán Cano.

Renê, responsável pelo erro na saída de bola, se redimiu ao cruzar para Mallo, com surpreendente liberdade para escapadas pela direita, empatar de cabeça após a justa expulsão de Samuel Xavier, antes do fim do primeiro tempo.

Se alguém achou que o Fluminense abdicaria de sua vocação, a posse de bola, por ter um jogador a menos na etapa final, as mexidas de Diniz no intervalo logo indicaram que o técnico chegou à seleção justamente pela convicção incondicional nos princípios que regem seu estilo. Reconfigurou o time, abrindo mão de Ganso e John Kennedy para recompor a lateral e fortalecer a marcação, mas seguiu disposto a buscar a vitória.

Acontece que o Inter, que já estava melhor ao fim do primeiro tempo, aumentou a rotação para aproveitar a vantagem numérica. Teve o gol anulado de Mercado, por toque na mão. Continuou pressionando até Alan Patrick marcar para valer em jogada construída pelo centro e virar a partida.

Diante das circunstâncias adversas, a torcida tricolor sentiu o baque nas arquibancadas. No entanto, a equipe não se rendeu. Em cobrança de escanteio, Nino escorou de cabeça para o sempre oportunista Cano empatar e cravar a respeitável marca de 79 gols marcados pelo Fluminense, 35 deles nesta temporada.

Levando-se em conta o roteiro da partida, tanto os donos da casa como os visitantes, que decidirão a vaga para a final no Beira-Rio, têm motivos para se contentar com o empate. Mas mesmo quem não torce por Flu ou Inter vibrou diante do espetáculo proporcionado pelos dois times. Sem exagero, um jogo digno de Champions League, torneio que reúne os melhores jogadores e os clubes mais ricos do mundo.

Na rodada de abertura da Liga dos Campeões 2023-24, o Bayern de Munique venceu o Manchester United por 4 a 3 em partida com quase 1.000 passes distribuídos, 28 finalizações (13 no alvo) e oito grandes chances criadas. Em Fluminense x Internacional, foram 814 passes, 22 finalizações (12 no alvo) e sete grandes chances, porém com maior equilíbrio em relação ao duelo vencido pela equipe alemã.

Uma semifinal de Libertadores que reúne dois dos melhores goleiros do continente, Fábio e Rochet, jogadores com Copa do Mundo no currículo, como Felipe Melo, Marcelo, Aránguiz e Enner Valencia, e jovens com potencial de Europa como André e Vitão, regidos por técnicos que não têm medo de correr riscos em nome do bom futebol.

Todos os elementos que configuram um jogo de altíssimo nível estiveram presentes no Maracanã e, apesar da aparente vantagem conquistada pelo Inter, mantêm indefinido o confronto, que, em Porto Alegre, tende a entregar mais uma noite formidável de Libertadores.

Fonte: Breiller Pires Breiller Pires é jornalista esportivo e, além de ser colunista do Terra, é comentarista no canal ESPN Brasil. As visões do colunista não representam a visão do Terra.
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