História inspiradora de Matheus Pereira traz um alerta sobre a saúde mental dos atletas
Craque do Cruzeiro presta enorme serviço ao futebol com relato sobre como a depressão quase abreviou sua carreira
Grande destaque do Cruzeiro nesta temporada, Matheus Pereira publicou um relato comovente sobre sua história de vida no The Players' Tribune. O meia de 27 anos confidenciou como a depressão o fez mergulhar nas drogas e no alcoolismo, além de, por pouco, não ter chegado ao extremo de colocar fim à própria vida.
“Eu não queria nada, não tinha mais prazer em nada, não prestava pra nada. Eu era um nada. Já tinha desistido de jogar futebol”, conta o jogador sobre o período em que defendia o Al-Hilal, na Arábia Saudita.
“Durante algum tempo, na minha cabeça só tinha uma palavra: morte, morte, morte. A única coisa que eu conseguia enxergar era a morte”, revelou o atleta, antes de salientar a importância do tratamento psicológico em sua recuperação. Foi a esposa quem o convenceu a buscar ajuda profissional.
“Demorou pra eu desistir de morrer. Mas a vida não desiste da gente. Ela insiste. A terapia me ajudou demais, e Deus me mostrou uma luz no fim do túnel”, diz o camisa 10 celeste, em referência ao Cruzeiro, clube pelo qual torce desde a infância e que abriu as portas para sua contratação após uma passagem de pouco brilho pelo Al-Wahda, dos Emirados Árabes.
Mais do que um desabafo corajoso, a reviravolta inspiradora de Matheus Pereira traz um alerta sobre a saúde mental dos atletas. Em tempos de ódio normalizado nas redes sociais, ainda mais em um meio de ânimos tão acirrados como o futebol, jogadores estão cada vez mais expostos ao desgaste emocional e à depressão.
Porém, sob a cobrança incessante por vitórias e desempenho, eles se veem reprimidos em manifestar emoções e, principalmente, em demonstrar fragilidade, como faz Pereira em seu necessário relato. Ao compartilhar tudo o que viveu nos últimos anos até reencontrar um propósito no Cruzeiro, o craque presta enorme serviço à sociedade e ao esporte, por encorajar outras pessoas, sobretudo atletas, que estejam sofrendo com problemas emocionais a buscar ajuda.
Recentemente, o jovem Endrick, de 17 anos, disse que não precisa de psicólogo por se apegar “a Deus e à família”. Matheus Pereira contou com o apoio da esposa e se agarrou à fé para escapar de um quadro depressivo, mas nem por isso dispensou o auxílio profissional por meio da terapia.
Falas como as de Endrick são comuns entre personalidades do esporte, até mesmo por parte de figuras muito mais experientes. A psicologia ainda é um tabu e encontra barreiras dentro dos clubes. Por outro lado, há quem tenha se atentado para o risco de uma epidemia de depressão entre os atletas e tomado providências para tentar preveni-la.
No início do mês, o Vasco anunciou a criação do Núcleo de Psicoterapia Integrada, pioneiro no Brasil, destinado ao atendimento psicológico multidisciplinar de atletas das categorias de base até o time principal. Apenas metade dos clubes da Série A do Campeonato Brasileiro contam com psicólogos à disposição dos jogadores. Equipe de Matheus Pereira, o Cruzeiro, por exemplo, recorreu a um serviço especializado de psicologia somente a partir de outubro do ano passado.
É fundamental que o futebol se abra ao trabalho de psicólogos do esporte. Tanto para quebrar o preconceito de muitos profissionais do meio quanto para servir de esteio a atletas cada vez mais pressionados. Nesse processo de enfrentamento ao tabu, o camisa 10 cruzeirense marca um golaço ao reforçar a importância da saúde mental para jogadores que, antes de tudo, devem ser tratados como seres humanos.