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Implicância com futebol feminino diz mais sobre machismo do que sobre o nível da Copa do Mundo

Qualidade dos jogos no Mundial, sobretudo nas semifinais, desmonta argumento dos que ainda resistem em reconhecer a evolução da modalidade

16 ago 2023 - 09h57
(atualizado às 10h15)
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Hemp foi o grande destaque da seleção inglesa na semifinal
Hemp foi o grande destaque da seleção inglesa na semifinal
Foto: Getty Images

“Ain, não assisto futebol feminino porque os jogos são ruins.” Certamente, ainda mais durante a Copa do Mundo, você já deve ter lido ou escutado essa desculpa de quem diz não ligar para mulheres jogando bola, mas não perde uma chance de atacar a modalidade nas redes sociais. Acontece que, neste Mundial sediado por Austrália e Nova Zelândia, o ótimo nível técnico da maioria das partidas tem jogado por terra o argumento ultrapassado da suposta falta de qualidade.

Já na fase de grupos, a Copa feminina apresentou embates emocionantes e bem equilibrados, a exemplo de Estados Unidos x Holanda e a virada espetacular da Nigéria sobre as australianas. Surpresas, por sinal, também não faltaram ao longo da competição.

Além da Nigéria, África do Sul e Marrocos, que reagiram após estrear com derrotas, fizeram história ao garantir pela primeira vez a classificação de três seleções africanas. Outra surpresa foi a Jamaica, que eliminou o Brasil em sua inédita passagem para a fase de mata-mata.

Melhor representante das Américas, a Colômbia cravou sua participação mais longeva em Mundiais ao desbancar a bicampeã Alemanha na fase de grupos e dar muito trabalho para a favorita Inglaterra nas quartas de final. Linda Caicedo, de 18 anos, roubou a cena com dribles e arrancadas fulminantes.

Ainda nas quartas, França e Austrália, que só avançou nos pênaltis após empate sem gols no tempo normal e na prorrogação, protagonizaram o confronto mais parelho, o que não significa que Suécia e Espanha não precisaram sofrer para se classificarem. No duelo entre ambas as seleções em uma das semifinais, as espanholas contaram novamente com a estrela de Paralluelo, que já havia marcado o gol da vitória contra a Holanda na prorrogação, ao superar as suecas num final de jogo eletrizante em Auckland.

Na outra semi, a Inglaterra, única equipe comandada por uma mulher entre as quatro melhores da Copa – e a mais bem treinada – derrubou a Austrália com imposição física, tática e técnica. Apesar do massivo apoio da torcida local e do brilho da craque Sam Kerr, as donas da casa não foram páreo para as inspiradíssimas Hemp e Russo, que mantiveram o time da técnica Sarina Wiegman vivo na luta pelo sonho do primeiro título mundial.

Os sinais de evolução da modalidade, que já eram visíveis desde a última Copa do Mundo, na França, se tornaram gritantes nesta edição do torneio. Seja pelo talento individual das atletas ou pela organização coletiva, tanto Espanha quanto Inglaterra chegam à final jogando o fino da bola, uma decisão inédita que promete intensidade, times ofensivos e fortes emoções para a manhã de domingo.

Ninguém é obrigado a assistir aos jogos nem a idolatrar jogadoras do feminino. Cada um é livre para consumir o que bem entender. Mas para quem realmente gosta de futebol bem jogado, esta Copa do Mundo tem sido um prato farto de grandes duelos. 

Já aos amargurados que criticam somente por criticar, sem muitas vezes nem se dar o trabalho de acompanhar as partidas, restam a teimosia e a implicância, que dizem mais sobre machismo do que sobre o nível técnico da Copa feminina.

Fonte: Breiller Pires Breiller Pires é jornalista esportivo e, além de ser colunista do Terra, é comentarista no canal ESPN Brasil. As visões do colunista não representam a visão do Terra.
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