Lances apontados em dossiê de Textor ridicularizam denúncia de manipulação
Até o momento, evidências de jogos potencialmente manipulados listadas pelo dono do Botafogo são tão frágeis quanto narrativa conspiratória
Depois do depoimento de Leila Pereira à CPI da Manipulação de Jogos, John Textor sentiu o golpe das alfinetadas disparadas pela presidente do Palmeiras e contra-atacou nas redes sociais com um vídeo que, em tese, endossaria sua denúncia de que o último Campeonato Brasileiro, vencido pelo clube alviverde, teria sido manipulado.
Segundo o dono do Botafogo, a análise do VAR no lance da expulsão de Adryelson, em jogo contra o Palmeiras no ano passado, quando seu time chegou a estar vencendo por 3 a 0 e acabou sofrendo a virada, teria induzido a decisão do árbitro de campo.
Para Textor, o fato de o VAR não ter selecionado o ângulo da imagem em que é possível ver o zagueiro botafoguense tocando na bola antes de derrubar Breno Lopes, do Palmeiras, seria um indício de manipulação. Entretanto, o empresário ignora que a regra não estipula que um toque prévio na bola sirva para anular uma jogada faltosa, como a de Adryelson, que atingiu o atacante adversário na altura da barriga e ainda o puxou pela camisa.
A interpretação do VAR e do árbitro da partida foi de que o defensor alvinegro impediu uma chance clara de gol, seguindo o protocolo previsto para lances do tipo, e optou por expulsá-lo de campo. Por mais que possa se discordar da decisão interpretativa da arbitragem, não há como cravar que houve manipulação sob o argumento de um ou outro ângulo de câmera ter sido desprezado na análise, já que nenhum deles indica que a falta cometida pelo jogador do Botafogo não existiu.
Já no relatório encomendado por Textor à empresa Good Game, como divulgado pelo UOL, o escrutínio baseado em inteligência artificial da goleada por 5 a 0 do Palmeiras sobre o São Paulo adota critérios no mínimo esdrúxulos para colocar o resultado sob suspeita.
Um deles, por exemplo, “detecta” que o goleiro Rafael teve “atitude deficiente” por não defender uma cobrança de pênalti, descrevendo o lance como “potencialmente anormal”. Em outros gols, o relatório descreve comportamentos corriqueiros de atletas como “situações anormais”. Se um defensor que não intercepta um cruzamento ou deixa de marcar um adversário em movimentação de ataque for automaticamente suspeito, o futebol se torna um terreno amplo de desconfiança e teorias vagas de trapaças.
Até o momento, as evidências de jogos manipulados listadas pelo dono do Botafogo são tão frágeis quanto a narrativa conspiratória que atribui a um suposto esquema de arbitragem e corrupção de jogadores a perda de um título praticamente ganho. Os lances apontados no dito dossiê de Textor acabam por ridicularizar sua própria denúncia.