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Leila Pereira faz o que dirigentes homens nunca tiveram a dignidade de fazer

Presidente do Palmeiras se posiciona sobre condenações de Daniel Alves e Robinho, rompendo com o silêncio cúmplice de seus pares

21 mar 2024 - 17h12
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Em amistosos na Europa, Leila Pereira chefia a delegação da seleção brasileira
Em amistosos na Europa, Leila Pereira chefia a delegação da seleção brasileira
Foto: Rafael Ribeiro/CBF

O cargo de chefe de delegação da seleção brasileira sempre foi considerado um status decorativo, utilizado pela CBF como forma de fazer política com cartolas de clubes e federações. Mas, nesta quinta-feira, Leila Pereira rompeu com a tradição protocolar do posto.

Chefiando a delegação da equipe que disputará amistosos contra Inglaterra e Espanha na Europa, a presidente do Palmeiras deu uma declaração contundente sobre as recentes condenações por estupro envolvendo ex-jogadores da seleção.

“Ninguém fala nada, mas eu, como mulher aqui na chefia da delegação, tenho que me posicionar sobre os casos do Robinho e Daniel Alves. Isso é um tapa na cara de todas nós, mulheres, especialmente o caso do Daniel Alves, que pagou pela liberdade. Cada caso de impunidade é a semente do crime seguinte”, afirmou Leila em entrevista ao UOL.

O posicionamento da dirigente contrasta com o silêncio cúmplice e constrangedor de todo o meio do futebol, incluindo a própria CBF, que não se pronunciou sobre a condenação de Robinho e Daniel Alves, uma das principais lideranças do time que disputou a última Copa do Mundo, no Catar.

Atletas, ex-jogadores, técnicos, dirigentes e empresários fingem que nada aconteceu, como se os recorrentes episódios de violência contra a mulher não dissessem muito sobre o ambiente em que trabalham. Covardemente, silenciam e hesitam em condenar o comportamento de companheiros de profissão condenados por estupro em uma sinistra rede de cumplicidade.

Foi preciso uma mulher, uma das solitárias vozes femininas com poder e influência no alto escalão da bola, para quebrar a corrente de omissão que ajuda a normalizar agressões machistas entre astros do futebol. Por isso, a fala de Leila é ainda mais importante, necessária e simbólica.

Num meio acostumado a blindar e aclamar referências masculinas marcadas por atitudes desprezíveis – não raro, criminosas –, a presidente palmeirense, aproveitando da visibilidade do cargo na seleção, fez o que dirigentes homens nunca tiveram a dignidade de fazer: condenar publicamente estupradores e agressores sexuais.

Às vezes, no futebol, é preciso exaltar quem faz o básico, sobretudo quando se trata de uma mulher em posição de comando rodeada de pares tão covardes e medíocres.

Fonte: Breiller Pires Breiller Pires é jornalista esportivo e, além de ser colunista do Terra, é comentarista no canal ESPN Brasil. As visões do colunista não representam a visão do Terra.
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