Marta demarca território ao liderar a seleção em grande estreia olímpica
Brasil vence a Nigéria e começa a corrida por conquista inédita com o pé direito, regido por sua jogadora mais vencedora e experiente
Aos 38 anos, Marta fez o que se espera da craque do time. Jogou o tempo inteiro, chamou a responsabilidade, deu assistência primorosa e liderou a seleção brasileira na vitória de 1 a 0 sobre a Nigéria. A estreia na Olimpíada teve todas as digitais da capitã, que, como jogadora mais vencedora e experiente do grupo, demarcou seu território intocável na equipe.
O primeiro tempo foi equilibrado. Apoiado em uma formação bastante ofensiva, com Gabi Nunes centralizada no ataque, Gabi Portilho aberta na direita, Ludmila na esquerda e Marta livre para circular pelo meio, o Brasil tomou a iniciativa do jogo, mas demorou a encaixar a marcação diante das nigerianas.
Lorena precisou trabalhar aos 15 minutos, salvando um chute à queima roupa da pequena área. No lance seguinte, a goleira fez grande defesa em finalização de fora da área. Por pouco, a Nigéria não abriu o placar após cobrança de escanteio curto e cabeceio pra fora da zagueira Demehin.
Passada a pressão nigeriana, a seleção de Arthur Elias acordou e retomou as rédeas da partida. Aos 35, Marta estufou as redes ao aproveitar o passe cruzado de Antônia vindo da direita, mas o gol acabou anulado por impedimento de Gabi Portilho no início da jogada.
Sem se abater emocionalmente, o Brasil deu a resposta logo na sequência. Dessa vez armando pelo meio, a camisa 10 descolou magistral enfiada de bola, rasgando a defesa da Nigéria, e encontrou Gabi Nunes em ótima condição. A centroavante não perdoou, com um chutaço para inaugurar o marcador.
Com mais posse de bola e o dobro de finalizações (12), o Brasil terminou a primeira etapa merecidamente em vantagem, superando a forte defesa adversária, que havia sofrido apenas um gol na última Copa do Mundo. Embora fosse a estreia olímpica de 14 das 18 jogadoras convocadas, a seleção demonstrou personalidade, amparada na cancha de atletas como Marta, Rafaelle e Tamires, que, por consequência de uma entrada dura não punida pela arbitragem, acabou substituída por Yasmin antes do intervalo.
No segundo tempo, as brasileiras baixaram o ritmo, mas souberam administrar bem o placar. Marta seguiu criando as principais chances, meteu uma bola na trave e parou na goleira Nnadozie, em chute de perna direita dentro da área. Bem fisicamente e melhor aproveitada pelo sistema do técnico Arthur Elias, a craque não só justificou a convocação, como provou que ainda tem lenha para queimar, cheia de fôlego em busca do inédito ouro olímpico em sua sexta tentativa.
Para coroar a boa estreia da seleção, uma menção honrosa à arquibancada. Torcedoras brasileiras driblaram as rígidas restrições do COI a manifestações políticas e exibiram uma mensagem a favor do direito dos povos originários à posse das terras indígenas: “Demarcação já”, dizia o cartaz exibido durante a transmissão oficial.
Golaço fora de campo à parte, dentro das quatro linhas a seleção encaminhou a classificação para as quartas de final com uma atuação segura. Como as duas melhores terceiras colocadas de cada grupo avançam de fase, o Brasil pode até tropeçar em um dos próximos confrontos contra Japão e a favorita Espanha. Em uma chave difícil e equilibrada, a principal missão da estreia – iniciar vencendo – foi cumprida.