Messi reclama de gol anulado na Olimpíada e corrobora imagem antipática dos argentinos
Capitão da seleção principal protesta contra decisão do VAR em jogo da equipe olímpica, que estreou nos Jogos com derrota para Marrocos
“Insólito.” Foi assim que Lionel Messi qualificou, por meio de uma postagem no Instagram, o gol anulado por impedimento na estreia da Argentina nos Jogos Olímpicos, com derrota de 2 a 1 para Marrocos. O lance que poderia ter selado o empate só foi revisado pelo VAR após quase duas horas de paralisação devido à invasão de torcedores no gramado do estádio Geoffroy Guichard, que precisou ser evacuado por falta de segurança.
Toda a confusão nasce dos descabidos 15 minutos de acréscimo concedidos pelo árbitro sueco Glenn Nyberg. Os argentinos se lançaram ao ataque no fim do segundo tempo e empataram com Medina. Marroquinos presentes na arquibancada se revoltaram com a situação, atiraram bombas e objetos em direção aos jogadores rivais e acabaram invadindo o campo.
Apesar da longa paralisação, o gol foi corretamente anulado pela arbitragem de vídeo, que flagrou a condição irregular de Medina na jogada. Craque da seleção principal, Messi protestou contra os acontecimentos na estreia da equipe olímpica dez dias depois de um vídeo, publicado pelo meia Enzo Fernández, chocar o mundo com cânticos racistas proferidos por jogadores argentinos direcionados a Mbappé e outros atletas franceses descendentes de imigrantes africanos.
Desde então, o capitão da Argentina se manteve em silêncio sobre o racismo desinibido dos companheiros de time, mas resolveu levantar a voz contra o que interpreta se tratar de uma injustiça com a equipe olímpica que representa o país nos Jogos sediados, ironicamente, na França.
A atitude cínica de Messi corrobora a imagem antipática dos argentinos nesta Olimpíada. A maioria dos torcedores na estreia desta quarta-feira, formada por marroquinos, vaiou a execução do hino da seleção albiceleste. Nada justifica a falta de respeito a símbolos nacionais, ainda mais em uma competição regida por valores olímpicos, mas a vaia se torna compreensível diante de uma nação africana que se sente atacada pelas seguidas omissões institucionais do país sul-americano ao não condenar o racismo praticado por seus jogadores.
Javier Milei, presidente da Argentina, demitiu o subsecretário de Esportes que cobrou uma retratação da seleção local, alegando que “nenhum governo pode dizer o que comentar, o que pensar ou o que fazer à Seleção Argentina, campeã mundial e bicampeã americana, ou a qualquer outro cidadão”. Ou seja, para o governo Milei, os resultados justificam qualquer ação, inclusive o racismo.
Tanto a postura diplomática quanto a dos torcedores argentinos, que passaram a entoar a música racista pelos estádio como mera provocação, contribuem para a onda de rejeição à Argentina na França, que, muito além das rivalidades do futebol, conta com grande população de imigrantes e descendentes de povos africanos.
Inegavelmente, é um vexame para o Comitê Olímpico Internacional e para a organização dos Jogos de Paris que a estreia do futebol masculino tenha sido manchada por uma invasão de campo e a evacuação do estádio por insegurança. Porém, tão insólito quanto é a desfaçatez de Messi e companhia, que não hesitam em apelar ao nacionalismo depois de se calarem diante do racismo.