Não é normal Endrick ser a última opção no ataque do Real Madrid
Poucos minutos com Ancelotti dizem mais sobre expectativas irreais do que sobre o potencial do jovem craque brasileiro
Nos primeiros jogos do Real Madrid em La Liga, Endrick tem sido a última substituição de Carlo Ancelotti, sempre acionado do banco na faixa dos 40 minutos do segundo tempo. Nem mesmo o gol relâmpago que marcou em sua estreia oficial, contra o Valladolid, serviu como trunfo para que ganhasse mais tempo em campo.
Diante do Betis, neste domingo, o jovem atacante brasileiro entrou somente aos 43 da etapa final, com o jogo já decidido por dois gols de Mbappé. Voltou a mostrar oportunismo, obrigando o goleiro Rui Silva a fazer boa defesa logo em sua primeira jogada.
Pode parecer pouco para torcedores que, instigados pelo imediatismo das redes sociais, se habituaram a cultivar expectativas irreais no futebol, mas o começo de Endrick no Real Madrid é absolutamente fora dos padrões, com indicativos sólidos de que todo o potencial demonstrado no Palmeiras tem grandes chances de se cumprir na Europa.
É sempre bom lembrar que o craque revelado na Academia acabou de completar 18 anos. Nessa idade, jogadores ainda estão em processo de formação, por mais badalados e promissores que sejam. No caso de Endrick, há outro fator que condiciona a prudência de Ancelotti em não queimar etapas.
Atual campeão espanhol e europeu, o Real Madrid conta com uma base vencedora, recém-reforçada por ninguém mais, ninguém menos que um dos melhores jogadores do mundo. É mais do que natural e aceitável que Endrick inicie sua trajetória europeia como reserva não só de Kylian Mbappé, mas também no fim da fila em uma hierarquia que valoriza nomes com serviços prestados ao clube.
Modric, Brahim Díaz e até mesmo Arda Güler, um ano mais velho que Endrick e contratado na temporada passada, sejam priorizados neste início de temporada, ainda que atuem em posições distintas no sistema ofensivo merengue. Faz parte também do jeito Ancelotti, um treinador afeito ao bom ambiente interno, de rodar e motivar o elenco.
Quando chegaram a Madri, tanto Vini Jr. quanto Rodrygo tiveram de esperar e conquistar aos poucos seu espaço no time. Há pouco tempo, jovens contratados a peso de ouro pelo Real Madrid costumavam passar por uma espécie de estágio no time B, o Castilla, antes de debutar no elenco principal. Graças ao talento e a precocidade dos brasileiros, essa etapa tem sido dispensada.
De qualquer forma, o futebol europeu ainda continua exigindo provas de persistência de garotos que precisam se adaptar a uma nova realidade. Vitor Roque, por exemplo, foi emprestado pelo Barcelona ao Betis e entrou no segundo tempo contra o Real Madrid. Não quer dizer que, aos 19 anos, esteja fadado ao fracasso na Europa. É um passo mais do que normal em seu ciclo de carreira.
O que não é normal, definitivamente, é um atacante de apenas 18 anos figurar no elenco do maior clube do mundo, já ter minutos jogados e um gol com a pesada camisa madridista e cavar oportunidades em um time vencedor, mesmo que como última opção no banco. De tão prodígio, Endrick faz o excepcional parecer trivial.