Neymar, Daniel Alves e um plano frustrado de ídolo nacional
Apoio a ex-companheiro de seleção joga pá de cal no projeto de construção de uma estrela do esporte unânime no Brasil
Em maio, a morte de Ayrton Senna completa 30 anos. Desde então, com o fim precoce de sua carreira no automobilismo, muitos consideram que o trono de ídolo nacional ficou vago, em que pese a ascensão de nomes como Romário, Ronaldo Fenômeno, Gustavo Kuerten, Daiane dos Santos e Marta.
Quem compartilhava dessa ideia era o antigo estafe de Neymar, que, na época em que o atacante despontava no Santos, enxergava a oportunidade de ocupar o vácuo de referência inabalável do esporte brasileiro. A equipe que cuidava de sua carreira acreditava que, em cinco anos, o craque se tornaria uma unanimidade como ídolo nacional. Obviamente, o plano não se concretizou.
Neymar Jr., inegavelmente, é um craque que construiu uma carreira multimilionária. No entanto, a idolatria que imaginava moldar é tão contestável como inconstante. Hoje, aos 32 anos, não ganhou a sonhada Bola de Ouro nem uma Copa do Mundo pela seleção. Depois da passagem atribulada pelo PSG, foi para a Arábia Saudita e segue sofrendo com lesões.
Ao longo desse período, sempre esteve distante de se tornar o melhor jogador do planeta ou um ídolo inatacável. Nem tanto pelas metas esportivas frustradas, que constavam no plano de carreira mirando o surgimento do “novo Senna”, e mais pelas posturas erráticas fora do campo.
Na mais recente polêmica, decidiu se colocar no centro do caso Daniel Alves ao pagar, por meio do pai, quase 1 milhão de reais para ajudar o ex-companheiro condenado por estupro na Espanha a reduzir a pena antes do julgamento. Mas os deslizes no processo de desgaste de sua imagem pública não param por aí.
Recentemente, Neymar assumiu ter traído a namorada grávida na véspera do Dia dos Namorados. Na sequência, se desgastou ainda mais ao promover um cruzeiro em alto-mar enquanto se recuperava de lesão e seu clube, o Al-Hilal, competia na Arábia. Pouco antes, se meteu novamente no ringue político ao compartilhar publicações de Flávio Bolsonaro e topar ser mestre de cerimônias do deputado bolsonarista, Nikolas Ferreira.
De qualquer forma, nada supera o apoio incondicional a Daniel Alves, que representa uma pá de cal no projeto de ídolo nacional. Qualquer referência do esporte que pretenda ser exemplo para um país teria o mínimo de noção ao evitar se expor, independentemente da amizade, como fiador da liberdade de um homem condenado pelo crime de estupro.
A soltura de Daniel Alves, inevitavelmente, respinga no nome de Neymar, embora a defesa do ex-lateral negue que a família tenha ajudado outra vez com o pagamento de nova fiança. Graças ao amigo rico, um estuprador condenado teve sua pena abrandada e a vida facilitada na Justiça em busca de atenuantes.
Em diversas ocasiões na carreira, Neymar citou frases e ensinamentos de Ayrton Senna, mas, na prática, mostra que pouco aprendeu com o ídolo piloto que serviu de norte em seu início de carreira. A experiência não impede que continue cometendo erros imperdoáveis para quem um dia projetou se converter em uma estrela unânime.
Senna, pelo zelo com a imagem e os ideais que representava, nunca deixou a vida pessoal se sobrepor às obrigações de atleta. Neymar, pelo contrário, sucumbe cada vez mais às escolhas ruins no extracampo. Um case completo de autodestruição da imagem, que só permanece intacta para os fãs que ainda têm a capacidade de enxergá-lo apenas como um jogador de futebol.