O Boca tem um plano, e Abel Ferreira precisa ser muito mais inventivo para sair vencedor no Allianz
Empate em casa não é ruim para o time argentino, que dobra aposta defensiva no intuito de derrubar o Palmeiras da Libertadores
Ao fim da partida na Bombonera, Abel Ferreira disse que surpreendeu o adversário com sua escalação. De fato, Jorge Almirón, técnico do Boca Juniors, não deveria esperar um adversário com Rony e Artur, que vinha atuando pelo lado esquerdo, formando a dupla de ataque. No entanto, ao menos para os donos da casa, a nova formação do Palmeiras logo se mostrou uma grata surpresa.
Exceção feita ao primeiro lance de perigo da equipe alviverde, em que Artur matou no peito dentro da área e chutou para fora, os dois atacantes estiveram a maioria do tempo de costas para o gol, facilitando o encaixe de marcação do Boca. Sem imposição física nem estatura na referência, o Palmeiras insistiu em lançamentos longos, perdeu disputas pelo alto e permitiu aos xeneizes dominar a segunda bola no meio-campo.
O Palmeiras viu desmantelar seu sistema ofensivo a partir da grave lesão no joelho de Dudu. Abel tem apostado na dobradinha Mayke e Marcos Rocha pela direita, o que desconfigura consideravelmente a forma do time atacar. Mesmo com Artur mais próximo da posição em que rende melhor, da direita para o meio, a equipe perdeu a capacidade de abrir o corredor para o apoio dos laterais. Raphael Veiga se tornou o jogador mais agudo, porém menos presente na criação de jogadas. O resultado tem sido um ataque engessado, que marcou apenas um gol desde a baixa de Dudu e terminou o primeiro tempo em Buenos Aires sem conseguir acertar o gol adversário.
Por sua vez, o Boca, sim, surpreendeu o time brasileiro. Almirón lançou o ex-palmeirense Merentiel no comando de ataque e recuou Cavani para participar da articulação de jogadas. Assim, tirou a referência da defesa e confundiu a marcação dos volantes do Palmeiras.
Do lado esquerdo, Piquerez sofria com as infiltrações de Medina. No direito, mesmo com Rocha e Mayke, o jovem Valentín Barco encontrava espaços para infiltrar ou alçar bolas na área. Segundo time que menos sofre finalizações no Campeonato Brasileiro, com média de 11 por jogo, o Palmeiras concedeu 18 arremates ao Boca na Bombonera. Não fossem as intervenções de Weverton e a imposição habitual da dupla Gómez e Murilo, teria sido impossível segurar o empate.
As melhores oportunidades da equipe alviverde, incluindo as duas únicas finalizações ao gol, estiveram nos pés de Veiga, que desperdiçou a melhor delas em um contra-ataque no começo do segundo tempo. Por mais que a igualdade no marcador soe mais conveniente para o visitante Palmeiras, sobretudo diante do contexto do jogo, o Boca cumpriu a primeira parte de seu plano para as semifinais: não perder.
O time de Almirón empatou todos os seus confrontos de mata-mata na competição até aqui e chegou ao quarto 0 a 0 em cinco jogos. Consciente da inferioridade técnica em relação ao Palmeiras, que disputa a quarta semifinal seguida de Libertadores, o Boca se apega à estratégia de arrastar mais uma decisão para as penalidades, confiante no experiente goleiro Sergio Romero, que defendeu 10 das últimas 19 cobranças de pênalti contra sua meta.
Para frustrar a tática de sobrevivência dos argentinos e conseguir romper a sina de eliminações palmeirenses para o Boca Juniors, Abel Ferreira precisa ser muito mais inventivo do que se propôs nos últimos jogos. Abrir mão de Mayke-Rocha pela direita e tentar um ponta de ofício no lugar de Dudu é uma solução simples, mas que, com ajustes de posicionamento, pode ser a saída mais eficaz para tornar o time menos previsível no ataque.
Não será fácil furar a defesa do Boca, mesmo jogando com o apoio da torcida no Allianz Parque. Abel, que busca sua terceira final de Libertadores em menos de três anos no clube, sempre se caracterizou por ter um plano na manga. O de agora tem de ser um antídoto ao do Boca, que não esconde de ninguém que aposta todas as fichas no peso emocional de uma disputa de pênaltis em território inimigo.