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O que Divertida Mente 2 ensina sobre ansiedade no esporte

Filme de animação retrata a vida de uma adolescente durante o processo de iniciação esportiva e a pressão pelo alto rendimento

5 jul 2024 - 11h25
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Riley, protagonista do filme da Disney, com seu time de hóquei no gelo
Riley, protagonista do filme da Disney, com seu time de hóquei no gelo
Foto: Reprodução

Sucesso instantâneo no Brasil e quebrando recordes de bilheteria nos cinemas, ‘Divertida Mente 2’, filme de animação recém-lançado pela Disney e Pixar, tem o esporte como pano de fundo. A protagonista Riley, de 11 anos, em um momento de descoberta de novas emoções ao entrar na puberdade, se destaca como jogadora de hóquei no colégio.

De um modo leve, porém profundo, o longa-metragem mostra como a prática de esportes pode ser um gatilho de ansiedade para crianças e adolescentes, sobretudo por instigar sentimentos que estimulam a competitividade e a profissionalização precoce. Certamente, várias pessoas que já assistiram ao filme, mesmo que não tenham se tornado esportistas profissionais, devem ter se identificado com a história.

Por muito tempo, falar sobre saúde mental era um tabu para os atletas. Um dos primeiros a expor publicamente problemas relacionados à ansiedade foi o tenista Mardy Fish, ex-número 7 do mundo no ranking da ATP. Em 2015, ele revelou como a exigência por desempenho e resultados o levou a desistir de jogar uma partida contra Roger Federer após um ataque de pânico. Fish precisou interromper a carreira para se tratar.

Embora o esporte deva ser uma atividade sempre incentivada, por questões de saúde, socialização e trabalho em equipe, por outro lado, também carrega altas doses de expectativa e adrenalina que podem ser destrutivas, ainda mais em uma fase tão delicada como a adolescência. A maioria dos atletas é formada em contextos hipercompetitivos, estimulados a todo momento a testar os limites do corpo e da mente em nome de uma carreira promissora.

Nem todos reagem bem a esse processo, muitas vezes repleto de cobranças e escasso de humanização. Como a vida não é um filme, atletas não são super-heróis, mas, desde cedo, aprendem a mascarar suas emoções e vulnerabilidades, em um meio que segue reforçando a mensagem de que só os mais fortes, os mais rápidos, os mais talentosos e os mais durões podem chegar ao estrelato.

Tanto na infância quanto no começo da adolescência, o esporte deveria ser apenas uma atividade prazerosa, lúdica e despretensiosa, e não a escolha prematura de uma carreira. Para adolescentes inseridos cada vez mais jovens no circuito do alto rendimento, a performance esportiva se torna não só uma rotina desgastante, mas também o reflexo distorcido da formação de seu caráter.

Se um garoto não é um bom jogador, logo, ele deixa de se enxergar como uma boa pessoa. Se uma garota não tem estatura ideal para o vôlei ou o basquete, logo, sua autoestima se deteriora diante das demais colegas de time. E assim, com uma formação mais mercadológica que educativa, o esporte de base se consolida como uma fábrica de pessoas frustradas, o que, consequentemente, se reflete na personalidade de boa parte dos atletas que viram profissionais.

Tem sido cada dia mais comum o diagnóstico de depressão, burnout e doenças emocionais em esportistas que, ao menos diante do público, interpretam personagens inabaláveis e indestrutíveis. Por trás de uma medalha ou um troféu, não raro se escondem duras batalhas internas, em que a própria mente se revela um adversário maior que outros competidores.

Divertida Mente 2 presta um serviço em chamar a atenção sobre a necessidade de acolhimento emocional e ajuste de expectativas de crianças e adolescentes durante o processo de iniciação esportiva. Compreender suas emoções e ansiedades, sem estigmatizá-las ou camuflá-las, é fundamental para a formação de atletas que, antes de tudo, sejam capazes de se reconhecer como seres humanos.

Fonte: Breiller Pires Breiller Pires é jornalista esportivo e, além de ser colunista do Terra, é comentarista no canal ESPN Brasil. As visões do colunista não representam a visão do Terra.
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