Olimpíada de Paris ainda passa longe de alcançar a igualdade no esporte
Comitê Olímpico promete mais representatividade, mas emperra em falha crucial ao tentar vender o discurso de inclusão
Pela primeira vez na história, o Brasil entra nas Olimpíadas com mais homens que mulheres em sua delegação. Além disso, é o país com mais atletas que se assumem publicamente como gays ou bissexuais. Marcas que merecem ser celebradas, mas que, em uma perspectiva maior, também revelam o atraso na promoção da diversidade no esporte.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) prometeu que os Jogos de Paris ficariam marcados pelo ineditismo da igualdade no número de homens e mulheres entre os atletas. Em que pese o salto de representatividade de gênero, os esportistas do sexo masculino continuam sendo maioria no evento.
Inclusive nas modalidades femininas, os homens brancos – aqui um lembrete sobre a constante desigualdade racial – seguem dominando os postos de comando, dos treinadores aos dirigentes. E aí reside a falha crucial do COI, ao praticamente ignorar os cargos diretivos nas políticas de inclusão.
Não deveria ser normal que, em mais de 130 anos ou desde a fundação das Olimpíadas por Pierre de Coubertin, a entidade que organiza os Jogos nunca tenha tido uma mulher presidente. Hoje comandado por Thomas Bach, que ocupa a cadeira há mais de uma década, o COI tem movido tímidos esforços para romper o monopólio masculino na alta cúpula de suas afiliadas nacionais. O Comitê Olímpico Brasileiro (COB), por exemplo, também nunca teve uma mulher na presidência.
Enquanto as mulheres representavam menos de 10% do quórum superior a 100 membros do COI, hoje o percentual subiu para quase 40%, impulsionado por uma reforma recente da Agenda Olímpica e uma parceria com a ONU Mulheres. Ainda assim, o comitê não parece ter pressa para implementar a paridade tanto nas esferas de poder quanto em comissões técnicas.
Nem mesmo modalidades com participação tradicional das mulheres, como ginástica, natação e volêi, escapam do predomínio dos homens como treinadores nas categorias femininas. O impacto da falta de representatividade é sentido em vários aspectos. No mês passado, a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) dispensou Diego Falcão, preparador físico da seleção feminina, após ele manifestar apoio ao projeto de lei que pretende equiparar o aborto ao crime de estupro e ter sido repudiado pelas atletas.
A diversidade sexual e de gênero, freada pelo preconceito institucional, amarga retrocessos. Em comparação com a edição de Tóquio, a Olimpíada de Paris registrou diminuição na quantidade de atletas da comunidade LGBTQIA+. Um exemplo é o jogador de vôlei brasileiro, Douglas Souza, que abandonou a seleção após ter sido vítima de ataques homofóbicos a partir de uma provocação preconceituosa compartilhada pelo ex-companheiro de time, Mauricio Souza.
Com tão poucas mulheres no poder, o discurso de inclusão vendido pelo COI se torna frágil. Passou da hora de só investir em diversidade pelas aparências. Isso não significa que avanços como o maior contingente feminino da história dos Jogos não devam ser comemorados. Mas salienta que, apesar das promessas, a Olimpíada sediada em solo francês ainda está longe de alcançar a igualdade no esporte.