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Operação contra patrocinadoras soa alerta sobre a febre das bets

Com explosão dos patrocínios de casas de apostas no futebol, clubes precisam se atentar para o risco embutido em contratos milionários

10 set 2024 - 08h37
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Patrocinadora do Corinthians é investigada em operação da Polícia Civil
Patrocinadora do Corinthians é investigada em operação da Polícia Civil
Foto: Miguel Schincariol/Getty Images

Na mesma temporada, o Corinthians experimenta o constrangimento de estampar duas marcas de casas de apostas mergulhadas no noticiário policial. Primeiro, a Vai de Bet, em contrato rompido por suspeita de repasses a laranjas, e agora a Esportes da Sorte, ambas investigadas em operação da Polícia Civil por supostos crimes financeiros e lavagem de dinheiro.

Apesar da coincidência infame envolvendo o segundo time mais popular do país, as duas bets, como ficaram popularmente conhecidas as plataformas de apostas, patrocinam outros diversos clubes do país, como Athletico, Bahia, Grêmio e Palmeiras. Uma explosão milionária e, ao mesmo tempo, arriscada de contratos de patrocínios.

Como patrocinadoras principais de 15 dos 20 clubes da primeira divisão do Campeonato Brasileiro, as bets injetam mais de 600 milhões de reais no futebol nacional, fora as ações de marketing com atletas, artistas e influenciadores. Depois da regulamentação das apostas esportivas no Brasil, sancionada pelo Congresso em 2023, o que já era um filão relevante para os cofres das equipes se tornou a mais nova febre do meio publicitário.

Sedentas pela fidelização de apostadores em um mercado tão concorrido quanto saturado de opções, as casas de apostas inflacionaram os valores de patrocínio e enxergaram em grandes clubes a maneira mais eficiente para se conectar com seu público. Nesse superaquecimento abrupto da demanda por visibilidade, dirigentes passaram, inclusive, a reservar para bets as cotas de patrocinador máster, cientes de que fechariam contratos melhores que os antigos acordos com marcas tradicionais do futebol.

É aí que a coisa começa a sair do controle. Diante do boom de sites de apostas, os departamentos de marketing perderam a capacidade de avaliar os riscos envolvidos em negociações e, ao priorizar as cifras em vez da solidez das parcerias, abriram brechas para que possíveis aproveitadores, golpistas ou até mesmo criminosos usassem espaços antes restritos a grandes empresas para promover negócios de procedência duvidosa.

Mesmo que os donos da Vai de Bet e Esportes da Sorte não tenham sido indiciados e condenados, a prisão dos empresários traz uma nuvem carregada de insegurança e, principalmente, representa um desgaste por tabela à imagem dos clubes que estampam suas marcas, que temem pela continuidade dos acordos caso as investigações comprovem ilícitos que inviabilizem as atividades das empresas.

Além da lisura por trás dos proprietários de casas de apostas, os times também precisam se atentar para outro risco embutido em contratos do tipo, independentemente da origem ou da garantia de integridade de cada marca. Alguns países europeus já restringem bets como patrocinadores, a exemplo da Premier League, na Inglaterra, que passará a vetar patrocínio de jogos de azar na camisa dos clubes a partir de 2026.

Sem contar o temor de associação a escândalos de manipulação de resultados, entidades da bola ainda despertam sobre a necessidade de regulação da publicidade para frear a dependência causada pelas apostas, sobretudo em jovens, um contrassenso aos valores do esporte. A operação contra patrocinadoras no futebol brasileiro soa o alerta sobre como não só o Governo, como também CBF, times, imprensa, torcedores e influenciadores precisam adotar um olhar mais crítico e criterioso sobre a febre das bets.

Fonte: Breiller Pires Breiller Pires é jornalista esportivo e, além de ser colunista do Terra, é comentarista no canal ESPN Brasil. As visões do colunista não representam a visão do Terra.
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