Pancadaria no Maracanã mancha o clássico e a imagem do futebol brasileiro
Cena de Messi tirando Argentina de campo devido à violência é mais um vexame protagonizado pela CBF por falta de organização e segurança
Lionel Messi assumiu sua condição de capitão e mostrou o verdadeiro papel de um líder ao não normalizar a desorganização, a barbárie e a violência policial nas arquibancadas do Maracanã. Diante da confusão generalizada antes do jogo, o craque ordenou que a seleção argentina deixasse o gramado enquanto não houvesse mínimas condições de segurança para os torcedores.
Responsável pela organização da partida, a CBF cometeu a falha grosseira de ignorar a necessidade de separação de torcidas, algo alertado na véspera pela Associação Nacional das Torcidas Organizadas (ANATORG), que previa alto risco de confrontos entre brasileiros e argentinos, sobretudo depois das brigas registradas na final da Libertadores.
Há pouco mais de dois anos, o clássico entre Brasil e Argentina válido pelas últimas Eliminatórias já havia sido cancelado por problemas de organização, em que jogadores argentinos entraram no país sem atender às exigências do protocolo de prevenção contra a covid-19. Mesmo notificadas pela Anvisa, CBF e Conmebol mantiveram a realização da partida, que acabou suspensa pelas autoridades quando as equipes se enfrentavam no gramado da Neo Química Arena.
O vexame desta terça-feira é mais uma mancha não somente para o maior clássico sul-americano, mas também para a imagem do futebol brasileiro. Cenas como as observadas no Maracanã, onde policiais e seguranças locados no estádio demonstraram toda a insanidade ao tentar dispersar uma briga entre torcedores argentinos e brasileiros com violência desproporcional à base de cassetetes, somado à ausência de efetivo policial no que deveria ser a divisão das torcidas, soam tragicamente repetidas.
Foi uma pancadaria semelhante ao caos que o próprio Maracanã vivenciou em 2017, na final da Copa Sul-Americana, em que policiais brasileiros entraram em confronto com torcedores do Independiente, num evento marcado pela completa desorganização, do início ao fim. A derrota do Flamengo ficou em segundo plano, tal qual o Brasil x Argentina desta noite, ofuscada pela violência.
A Conmebol também tem sua parcela de responsabilidade por tantos anos de omissão e tolerância a episódios de racismo por parte de torcedores argentinos contra brasileiros em competições sul-americanas, fato que contribuiu para acirrar ainda mais a rivalidade – que saiu da esfera esportiva e se embrenhou por ataques de ódio. O que não isenta, obviamente, a culpa objetiva da CBF pela absoluta falta de cuidado com o público no clássico mais recente.
Independentemente de provocações e atos que possam ter motivado as brigas na arquibancada, como a lamentável vaia de brasileiros ao hino argentino, dirigentes, autoridades, forças de segurança e Polícia Militar falharam com os torcedores no Maracanã. A violência no futebol tem vários atores, e a CBF, com sua habitual maneira rústica de gerir o espetáculo, assume um papel de protagonismo para o acirramento dos ânimos.
Na semana em que uma fã da cantora Taylor Swift morreu no estádio Nilton Santos por falta de organização do show e outro foi assassinado a facadas durante um assalto, o Rio de Janeiro tem sua vocação turística arranhada por um novo vexame, dessa vez no esporte.
Messi e os jogadores argentinos não banalizaram imagens que se tornaram comuns nos estádios. E talvez contribuam para que os maiores responsáveis por negligenciar aspectos básicos de segurança abram os olhos e reconheçam, enfim, que são a parte principal do problema.