Perseguição a jogadores que apoiam a Palestina reprime liberdade de expressão
Atletas de origem árabe que se manifestaram sobre a guerra no Oriente Médio sofrem punições, censura e xenofobia
Nesta semana, o Mainz 05, time da primeira divisão da Alemanha, afastou o atacante Anwar El Ghazi por publicar um post crítico a Israel e em apoio à Palestina em suas redes sociais. Ainda no futebol alemão, o Bayern de Munique repreendeu o lateral Noussair Mazraoui após ele compartilhar uma mensagem em defesa do povo palestino.
“Minha posição é que eu trabalharei por paz e justiça nesse mundo. Isso significa que eu sempre serei contra todo tipo de terrorismo, ódio e violência”, explicou o jogador marroquino após a repercussão da postagem. Ainda assim, o deputado Johannes Steineiger pediu a rescisão de contrato com o Bayern e a expulsão de Mazraoui do país.
Na França, o ministro do Interior, Gérald Darmanin, acusou Karim Benzema de ter ligações com grupos terroristas após o atacante se solidarizar com vítimas da guerra na Faixa de Gaza. Em seguida, a senadora Valérie Boyer, conhecida por suas posições anti-imigração, sugeriu que Benzema deveria perder a Bola de Ouro e a “nacionalidade” francesa. Detalhe: o jogador nasceu em Lyon, terceira maior cidade do território francês.
A perseguição a jogadores que apoiam a Palestina atenta contra a liberdade de expressão. Desde que não incitem ódio e violência, tal qual Benzema, Mazraoui e El Ghazi, todo atleta deve ter o direito assegurado de se posicionar politicamente, sobretudo em tempos de guerra.
Há de se ressaltar que entre jogadores de origem árabe existe um forte sentimento de solidariedade com a causa palestina. Na última Copa do Mundo, por exemplo, representantes da seleção de Marrocos celebraram vitórias erguendo a bandeira da Palestina em campo. Há de se ressaltar ainda que apoiar a criação do Estado palestino ou rogar pelo fim dos bombardeios em Gaza não significa apoio ao Hamas nem a atentados terroristas contra Israel.
O direito à livre expressão também garante que atletas se solidarizem com vítimas israelenses, como têm feito o atacante Eran Zahavi e o lateral ucraniano Zinchenko, que atua pelo Arsenal. Em 2021, em meio a um conflito entre Israel e o Hamas, o clube londrino advertiu o meia egípcio Mohamed Elneny por causa de postagens de suporte à Palestina. Todavia, ele segue expressando publicamente seu posicionamento.
Nada impede que jogadores sejam questionados ao tomar partido. Parte da torcida do Coritiba tem criticado o atacante argelino Islam Slimani, uma das vozes isoladas no futebol brasileiro a favor da causa palestina, por publicações em rede social desde que a guerra estourou no Oriente Médio. De qualquer forma, não cabe a nenhum clube censurar ou punir atletas que se posicionam politicamente.
Além de sanções, jogadores que apoiam a Palestina têm sido vítimas de xenofobia, como nos casos de Benzema e Mazraoui. Muitas manifestações nesse sentido confundem apoio a uma causa com endosso ao terrorismo. Outras, entretanto, se aproveitam dos ânimos acirrados pela guerra para destilar preconceito e intolerância, algo que deveria gerar mais indignação que o ativismo político de atletas.