Por que affair entre jogador e cantora drag queen causa espanto no futebol
Atleta formado na base do São Paulo recebe comentários homofóbicos após confirmar relacionamento casual com Pabllo Vittar
No mesmo espaço em que o volante Yuri Lima é frequentemente exaltado pelo namoro com a cantora Iza, o zagueiro Polidoro Junior, com passagens por Portuguesa, São Caetano, clubes do exterior e formado na base do São Paulo, agora é achincalhado com piadas homofóbicas depois de confirmar ter tido um affair com a cantora Pabllo Vittar.
A diferença de tratamento entre os jogadores diz muito sobre a homofobia que permeia o futebol. Ninguém se espantou pelo fato do defensor do Mirassol ter assumido relacionamento heterossexual com uma mulher famosa e bem sucedida. Pelo contrário, ele foi praticamente aclamado por ter “conquistado” a cantora, que está grávida do primeiro filho do casal.
Já Polidoro, que não hesitou em afirmar já ter ficado com uma cantora igualmente famosa e bem-sucedida, mas que se identifica como um homem gay drag queen e de gênero fluido, recebe comentários homofóbicos por renunciar ao padrão másculo que o meio espera dos jogadores de futebol.
Sempre associado à força, virilidade e ao estereótipo da figura que pode se relacionar com qualquer mulher que desejar por causa de seu status, o atleta de futebol é visto como um ideal de masculinidade a ser alcançado por homens que admiram o esporte. Em um ambiente machista e homofóbico, esse papel preconcebido ajuda a explicar por que são raros os jogadores que se identificam como LGBTQIA+ na modalidade, pois sabem que serão perseguidos e rejeitados pelos torcedores.
Quando um jogador é alvo de chacota discriminatória devido a um relacionamento homoafetivo e outro é glorificado pela mesma razão, porém namorando com uma mulher cisgênero e heterossexual, é sinal concreto de que a maioria dos homens, sobretudo a parcela que circula pelo futebol, ainda se espanta e se afeta com a diversidade sexual e de gênero.
Enquanto relacionamentos homoafetivos são comuns no futebol feminino, inclusive entre atletas do mesmo clube, o masculino continua resistente em reconhecer o direito dos atletas se relacionarem com quem bem entenderem, independentemente da orientação sexual. Logo, o problema da LGBTfobia não é do esporte ou da modalidade, mas de uma cultura preconceituosa que raramente é confrontada no meio do futebol jogado e consumido por homens.