Por que Lula não frequenta estádios de futebol
Ao contrário de Bolsonaro, que era figura carimbada em jogos, atual presidente da República tem mantido distância de eventos esportivos
Em pouco mais de um ano de mandato, raras foram as ocasiões em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu as caras em estádios de futebol. Embora seja um torcedor bastante antenado a seus clubes do coração (Corinthians e Vasco), o atual chefe do Executivo, ao contrário do antecessor Jair Bolsonaro, tem sido mais reservado em aparições públicas, sobretudo em eventos esportivos.
Assessores e pessoas próximas do presidente explicam que não se trata de uma estratégia para marcar diferença em relação a Bolsonaro, muito menos receio de receber vaias ou de eventuais protestos de torcedores. Segundo o estafe petista, as razões para um perfil discreto em torno do futebol são práticas e de ordem pessoal.
Primeiro porque Lula, argumentam correligionários, nunca foi frequentador assíduo de arquibancadas, apesar do gosto pelo futebol. Em mandatos anteriores, poucas vezes o presidente marcou presença em jogos, como em 2004, no Haiti, em amistoso da seleção brasileira articulado pelo Itamaraty – uma força-tarefa com a ONU para ajuda humanitária ao país caribenho que, na época, era assolado por uma guerra civil.
Outro motivo é o esforço da Presidência para tentar pacificar os ânimos políticos no país e manter o foco nas prioridades de govenro. Nesse sentido, além de demandar um enorme aparato do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), a presença de Lula em jogos de futebol poderia se tornar gatilho para embates ideológicos e partidários.
Mesmo sem frequentar estádios, o presidente já foi vítima de fake news que usavam vídeos antigos, anteriores à última eleição, em que o líder petista foi xingado por parte da torcida do Vasco em São Januário, como se fossem atuais. Porém, diferentemente do boato veiculado nos posts em redes sociais, Lula não esteve no estádio vascaíno em nenhuma ocasião recente.
A postura de Lula se contrapõe ao populismo de Bolsonaro nos estádios. Antes de tomar posse, o ex-presidente já havia presenciado o jogo do título brasileiro do Palmeiras, em 2018, quando levantou a taça posando entre jogadores alviverdes. Em seu primeiro ano de mandato, foi figura carimbada não só no Allianz Parque, mas também no Mané Garrincha, em Brasília, quando assistiu a jogos do Flamengo, e na Vila Belmiro, indiferente a manifestações de repúdio da torcida do Santos.
Na Copa América de 2019, sediada no Brasil, Bolsonaro gastou mais de 200.000 reais em verbas públicas para ir a três jogos da seleção brasileira, incluindo a abertura, no Morumbi, e a final, no Maracanã. Entre vaias e aplausos, o então presidente desceu ao gramado para participar da premiação aos jogadores brasileiros que conquistaram o título da competição.
Lula, por sua vez, ainda não cumpriu agenda oficial em jogos no início de seu terceiro mandato. As aparições relacionadas a futebol se restringem ao velório de Pelé, na Vila Belmiro, uma visita ao treino fechado da seleção feminina, antes da última Copa do Mundo, acompanhado da primeira-dama Janja para anunciar apoio à candidatura do Brasil como sede do Mundial da modalidade previsto para 2027, e um encontro com o garoto Gui, torcedor-símbolo do Vasco que luta contra uma doença rara.
Fora isso, o presidente chamou a atenção ao receber o então mandatário do Corinthians, Duilio Monteiro Alves, em uma reunião no Palácio do Planalto, no fim do ano passado. No dia seguinte, o clube anunciou ter encaminhado acordo com a Caixa Econômica Federal para renegociação da dívida de mais de 500 milhões de reais pela construção da arena em Itaquera.
Ainda que distante dos estádios, Lula segue acompanhando jogos e muito ligado ao futebol, afirma um correligionário do PT com quem o presidente costuma trocar mensagens sobre a seleção e o Corinthians. Tanto que o presidente não abre mão das metáforas típicas de torcedor.
Recentemente, ele se comparou a um treinador que precisa mudar a tática durante o jogo ao comentar sobre a reforma ministerial. Em outra oportunidade, o presidente disse que tanto Vasco quanto Corinthians precisam de um benzedor e que Janja, flamenguista, não perde a oportunidade de provocá-lo a cada derrota de seu time predileto no Rio de Janeiro.