Teoria do caos aumenta chance de rebaixamento do Corinthians
Derrota no clássico diante do Palmeiras tem requintes de crueldade e expõe dificuldade extra para fugir do Z-4
Não foi um jogo ruim do Corinthians. Mesmo atuando no Allianz Parque, contra um rival que disputa a liderança do Campeonato Brasileiro, o time de António Oliveira demonstrou organização, teve mais posse de bola – principalmente no segundo tempo – e foi bastante competitivo, o que não bastou para evitar a derrota por 2 a 0 diante do Palmeiras.
Revés que teve requintes de crueldade, como o gol de Raphael Veiga desviando na cabeça de Fabinho, em meio à barreira, matando qualquer possibilidade de defesa de Matheus Donelli. Ou mais um gol sofrido de bola parada, em cobrança de escanteio no primeiro pau. Assim, o Corinthians segue afundado na vice-lanterna da competição nacional, pior campanha de sua história em 13 rodadas nos pontos corridos.
Pelo retrospecto, hoje o clube alvinegro amarga mais de 60% de chances de ser rebaixado. Possibilidades que acabam turbinadas se aplicada a teoria do caos, uma tese em que pequenos detalhes podem gerar mudanças de proporções gigantescas, imprevisíveis e até mesmo catastróficas, como uma queda à segunda divisão.
O curso da história do Corinthians começa a ser modificado por um acontecimento aparentemente corriqueiro no futebol, uma troca de treinador, mas que acabou resultando em consequências muito maiores, ainda no ano passado. Ao decidir bancar a contratação de Cuca, à época condenado por estupro, indiferente aos protestos da torcida, a gestão de Duilio Monteiro Alves entrou em franco declínio.
Sem conseguir se ajustar depois da saída de Cuca, que pediu demissão após dois jogos no comando, a diretoria se desgastou dentro e fora do clube, sepultando o plano de emplacar a sucessão de seu grupo político no poder. Dessa forma, abriu as portas para a vitória da oposição, liderada pela figura de Augusto Melo, que prometia, entre outras coisas, acabar com a farra dos maiores rivais – que, a exemplo do Palmeiras, continuam em situação bem melhor que a do Corinthians.
Melo teve nas mãos a oportunidade de alterar o curso da história, que já se desenhava alarmante na temporada passada, quando o time lutou contra o rebaixamento ainda sob a batuta de Duilio. Mas os primeiros atos de sua administração ajudam a explicar o panorama atual do clube, novamente flertando com o abismo na tabela de classificação.
O novo presidente iniciou uma reformulação de elenco atabalhoada, abrindo mão de figuras experientes como Renato Augusto, Fábio Santos e Gil. Por desatenção na renovação de contrato, ainda perdeu mais um medalhão da defesa, Lucas Veríssimo, que apareceu como garoto-propaganda na apresentação do acordo de patrocínio com a VaideBet, rompido por suspeitas de desvio de verbas da comissão paga a intermediários.
Quem poderia imaginar que uma defesa totalmente remontada, sem o entrosamento ideal e zagueiros cascudos, seria vulnerável a bolas aéreas? Ou que um meio-campo sem Renato Augusto, Paulinho, Moscardo e Fausto Vera, o mais recente negociado da lista, poderia chegar ao próximo jogo, contra o também ameaçado Vitória, com apenas uma opção para atuar como volante?
Impossível mensurar o momento exato em que um “pequeno detalhe” alterou o curso corintiano para uma rota decadente e errática, do institucional ao campo, mas as decisões da diretoria estão diretamente ligadas ao que acontece com o time. Ainda que escolha a alternativa batida de tentar resetar a máquina trocando novamente de treinador, Augusto Melo não escapa das consequências de descumprir antigos compromissos.
Prometeu ruptura e entregou a continuidade de velhas práticas que prendem o Corinthians no turbilhão do caos. E quando um clube tão grande quanto convulsivo entra na espiral de seguir perdendo mesmo não jogando mal, a força da gravidade exerce pressão dobrada, e a missão de fugir do Z-4 passa a exigir um esforço muito maior.