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Tite é o nome ideal para o Flamengo, que não é o clube ideal para Tite

Ex-treinador da seleção chega ao Ninho do Urubu com a missão de pacificar ambiente, reformular elenco e resistir ao amadorismo de dirigentes

9 out 2023 - 13h11
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Tite reencontrará Gabigol ao assumir o Flamengo
Tite reencontrará Gabigol ao assumir o Flamengo
Foto: Lucas Figueiredo/CBF

O Flamengo precisa de Tite. Se trata do melhor e mais completo técnico brasileiro da atualidade. Tem estofo suficiente para pacificar os ânimos de uma equipe abatida por maus resultados e constante turbulência extracampo nos últimos meses. É, de fato, o nome ideal para o momento. Não se pode dizer, entretanto, que o clube representa o mesmo para o treinador.

Comandante da seleção brasileira nas últimas duas Copas do Mundo, Tite voltou ao mercado mirando o futebol europeu. As propostas não foram as que ele projetava, sobretudo de clubes com potencial realmente competitivo nas grandes ligas. Teve de dar um passo atrás e considerar o retorno ao cenário nacional.

Nesse sentido, o Flamengo poderia soar como o caminho inevitável. É o clube mais rico do país e tem o elenco mais caro da América do Sul. Oferece perspectivas para a conquista de títulos, como os dois Brasileiros, as duas Libertadores e a Copa do Brasil que acumulou em menos de uma década.

Porém, pesando também os contras, o Flamengo não é o clube ideal para Tite. Valorizado após passagem pela seleção, o técnico mira a oportunidade de tocar um trabalho de longo prazo, como o que desempenhou em sua passagem bem-sucedida pelo Corinthians. Estabilidade e projeto esportivo duradouro, definitivamente, não são garantias oferecidas pela gestão de Rodolfo Landim aos treinadores que passam pelo Ninho do Urubu.

É uma diretoria bastante sensível a pressões internas e externas, clamores imediatistas de torcedores nas redes sociais e sem nenhuma convicção do que deseja para o futebol do clube, justamente o contrário do panorama que Tite encontrou no Corinthians.

Antes referência para outros clubes, por mais defeitos que pudesse ter o ex-presidente Andrés Sanchez, a equipe paulista apostava na longevidade de técnicos como parte de seu modelo de sucesso, enquanto o Flamengo de Landim se esbalda no poderio econômico, que já desembolsou quase 50 milhões de reais em multas rescisórias de treinadores, para trocar o comando sempre que os resultados não aparecem.

Tite foi bancado por Andrés quando eliminado da Libertadores pelo Tolima, antes da fase de grupos, em 2011, ano em que acabou levando o Corinthians ao título brasileiro. Quem garante que, mesmo com contrato até o fim de 2024, o Flamengo teria postura semelhante em caso de um fracasso esportivo dessa magnitude? Afinal, pela situação do time na tabela, em quinto lugar a 12 rodadas para o fim do Campeonato Brasileiro, é de se considerar a possibilidade de não conseguir a vaga direta na principal competição continental.

Fora a baixa tolerância da diretoria a resultados adversos, Tite chega a um clube que não tem processos bem estabelecidos em seu departamento de futebol. Sob a responsabilidade do vereador Marcos Braz, o setor de maior orçamento da instituição é pautado pela dinâmica de cada comissão técnica, o que pressupõe um protagonismo ainda maior do treinador em decisões que deveriam ser capitaneadas pelos dirigentes.

A missão de reinventar o departamento de futebol coincide com a necessidade de reformular o elenco rubro-negro. Tite precisa avaliar a continuidade de veteranos como Everton Ribeiro, David Luiz e Filipe Luís, além de recuperar referências como Ayrton Lucas, Arrascaeta e Gabigol, nome preterido por ele da última Copa e um dos mais questionados pela torcida após uma temporada sem títulos.

Há dinheiro para contratações e reforços que contemplem carências detectadas pelo treinador, porém o maior desafio é retomar o apetite competitivo da base vitoriosa do elenco, a começar pelas estrelas do ataque. E nunca é fácil conduzir essa empreitada sem o devido anteparo dos homens fortes do futebol.

Braz, por exemplo, se tornou desafeto de Gabigol e não goza mais da mesma credibilidade do passado diante do elenco. O técnico terá de assumir praticamente sozinho o trabalho de relações institucionais com os jogadores, sobretudo após a passagem ruidosa de Jorge Sampaoli.

Por todo esse combo, Tite merecia um clube com cenário mais propício para trabalhos de longo prazo que o Flamengo. Seu sucesso à frente do time mais popular do país depende diretamente do grau de autonomia que terá para implementar seus métodos em campo, na gestão do vestiário e, principalmente, no departamento de futebol. Uma área ainda dominada pelo amadorismo e a perniciosa influência política que têm impedido a permanência até mesmo de técnicos que levantam taças pelo rubro-negro.

Fonte: Breiller Pires Breiller Pires é jornalista esportivo e, além de ser colunista do Terra, é comentarista no canal ESPN Brasil. As visões do colunista não representam a visão do Terra.
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