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Yan Couto trata Daniel Alves como ídolo, um reflexo do mundo paralelo dos boleiros

Bola fora de jovem lateral da seleção ao reverenciar jogador preso por estupro expõe a bolha perversa do futebol

16 out 2023 - 10h03
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Lateral Yan Couto exaltou Daniel Alves, preso após acusação de estupro
Lateral Yan Couto exaltou Daniel Alves, preso após acusação de estupro
Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Com a lesão de Danilo, ainda no primeiro tempo da partida contra a Venezuela, o lateral Yan Couto, do Girona, ganhou a oportunidade de estrear pela seleção brasileira e correspondeu bem no teste de fogo. Possível titular diante do Uruguai, nesta terça-feira, o jovem de 21 anos foi questionado sobre quem seria sua maior referência no futebol. A resposta foi, no mínimo, infeliz.

“Meu ídolo é o Daniel Alves, não tem como ser outro”, respondeu o lateral revelado pelo Coritiba. “Eu cresci assistindo ele pela TV, é um ídolo para muita gente, para muitos brasileiros. Ele fez uma história muito linda pela seleção e pelos clubes por onde passou.” Convocado para a última Copa do Mundo, Daniel Alves está preso em Barcelona e será julgado sob a acusação de estuprar uma mulher no banheiro de uma boate.

Obviamente que a intenção de Yan Couto era dizer que se espelhou no ex-lateral do Barça por atuar na mesma posição. Que Daniel Alves é uma referência como jogador, não como cidadão ou ser humano. Mas, ao ressaltar a imagem de ídolo de uma figura pública acusada de estupro, o calouro da seleção derrapou feio.

Pela juventude e o peso de uma estreia no ambiente da equipe principal do Brasil, poderia-se atribuir a resposta a um deslize de principiante. No entanto, a declaração reflete o mundo paralelo dos boleiros, que, de tão imersos na bolha do futebol, simplesmente ignoram que a vida não se limita à carreira no esporte. Um meio muitas vezes conivente e cúmplice de atos desprezíveis como a violência contra a mulher.

Não por acaso, não apenas Daniel Alves ainda é tratado como ídolo, em que pese a gravidade das acusações a que responde na Justiça, mas também Robinho, mesmo depois de ter sido condenado pelo estupro coletivo de uma mulher na Itália, e Cuca, igualmente setenciado por violência sexual contra uma garota de 13 anos na época em que jogava pelo Grêmio. 

Ambos foram anunciados com pompas pelo Santos, em 2020, até que uma ameaça de debandada de patrocinadores fez com que o clube suspendesse o contrato do atacante. Três anos depois, Cuca chegou ao Corinthians e, somente devido a insistentes protestos da torcida, pediu para sair sentindo-se injustiçado pelo o que chamou de “linchamento”.

Em nenhum contexto, Daniel Alves, Robinho ou Cuca podem ser tratados como ídolos, independentemente do que já tenham conquistado no futebol. Ao contrário do que muita gente imagina, não há como separar o jogador ou treinador da figura humana. 

O exemplo, infelizmente, vem de cima. Em sua primeira convocação, o técnico Fernando Diniz bancou o atacante Antony, embora tenha sido recentemente denunciado pela ex-namorada por suposta agressão. Normalizando comportamentos machistas e desprezando o impacto de questões sociais no esporte, o futebol segue se portando como um universo à parte, em que tratar jogador preso por estupro como ídolo é visto com naturalidade.

Fonte: Breiller Pires Breiller Pires é jornalista esportivo e, além de ser colunista do Terra, é comentarista no canal ESPN Brasil. As visões do colunista não representam a visão do Terra.
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