Curta-metragem de Jorge Furtado tentou livrar Barbosa de injustiça histórica
Até o genial Nelson Rodrigues defendeu o eterno camisa 1 da seleção brasileira e do Vasco, atormentado até o final da vida
Moacyr Barbosa. Esse é um jogador de futebol que não pode ser esquecido. Não pode mesmo. Mais conhecido simplesmente como Barbosa, ficou com fama ruim na seleção brasileira, acusado de falhar no segundo gol da seleção uruguaia, aquele que deu o bicampeonato mundial à Celeste Olímpica, em pleno Estádio Jornalista Mario Filho, o Maracanã, na Copa de 1950. O peso do Maracanazo caiu sobre ele. Uma injustiça. Racismo estrutural mesmo. O setor defensivo inteiro errou como comprovado em alguns livros de ótimos autores como ‘Maracanazo: A História do Maior Drama do Futebol Brasileiro’, de André Ribeiro, e ‘Anatomia de uma derrota: 16 de julho de 1950 – Brasil x Uruguai’, de Paulo Perdigão.
Até o cineasta Jorge Furtado tentou melhorar a reputação do excepcional goleiro. Furtado foi o diretor do premiado curta ‘Barbosa’, de 1988, uma bela ficção científica onde a personagem do excelente ator Antônio Fagundes, um cientista fanático por futebol e que estava no dia da tragédia futebolística no Maracanã, volta no tempo para salvar o goleiro do linchamento histórico. ‘Barbosa’ intercala dramatização com dolorosos depoimentos do ex-jogador.
“Aí, depois do segundo gol do Uruguai, o do Ghiggia, se tivesse uma cratera ali, eu ficaria nela. Iria desaparecer mesmo. O Maracanã desmorou em cima de mim. O público silenciou. Depois daquela partida, não consegui dormir. Fiquei a noite toda com aquilo na cabeça”, disse Barbosa no filme de 13 minutos.
Barbosa explicou o que os torcedores fizeram com ele depois da derrota para o Uruguai por 2 a 1 no último jogo da Copa do Mundo de 1950. “Fui acusado de tudo. Realmente, me culparam pela derrota”, lamentou o falecido Barbosa.
Barbosa teria 102 anos e muitos torcedores, atualmente, dão a importância devida a ele. O Centro de Treinamento do Vasco, clube que o jogador defendeu literalmente, tem o nome e o sobrenome do camisa 1.
No dia 7 de abril de 2000, o injustiçado goleiro morreu aos 79 anos, em Praia Grande, no estado de São Paulo.
Para mostrar a importância de Barbosa para o futebol brasileiro, o teatrólogo e cronista Nelson Rodrigues escreveu de forma extremamente positiva sobre o eterno jogador da seleção e do Vasco: “Barbosa era grande. Só o perna de pau consegue ser esquecido. Um Barbosa, não”
Nelson foi outro que tentou tirar a culpa do goleiro. Repito: ele não era o único culpado pelo triste Maracanazo, o segundo evento mais triste da História da seleção brasileira. O primeiro? O 7 a 1 para a Alemanha no dia 8 de julho de 2014.
O genial jornalista Nelson Rodrigues viu o absurdo da crucificação do ex-jogador. Barbosa foi vítima de um país que ainda tem segregação racial silenciosa.