Dinizismo na seleção começa bem
Com grande atuação de Rodrygo, recorde de Neymar e estilo diferenciado, a primeira impressão do técnico interino é das melhores
Toques rápidos. Aproximação. Saída de bola sem chutão. Mobilidade dos jogadores do meio-de-campo para frente. A linha defensiva da Bolívia foi quebrada com competência. O dinizismo na seleção brasileira começou bem. Neymar jogou muito. Com a liberdade do estilo aposicional do treinador, o craque parecia novamente se divertir com a bola. O camisa 10, enfim, voltou a ter uma atuação de gala com a chamada Amarelinha.
O primeiro tempo foi um ensaio geral. Em uma das belas jogadas da equipe, Rodrygo entrou na área pela esquerda, cruzou e a bola bateu no braço do zagueiro Jusino. Pênalti. Neymar cobrou e perdeu. No entanto, o pocket show do craque seria no segundo tempo.
Ainda na etapa inicial, o primeiro gol do Brasil teve um pouquinho do estilo Diniz. Danilo deu grande passe para Raphinha, que confundiu a marcação com movimentação inteligente. O goleiro Viscarra espalmou o chute do jogador do Barcelona, e Rodrygo aproveitou a chance. Brasil 1 a 0. Gol de um dos craques brasileiros do Real Madrid.
Na segunda etapa, a seleção brasileira brilhou. A goleada de 5 a 1 mostrou a qualidade do futebol da equipe dinizista. Raphinha e Bruno Guimarães foram outros destaques do jogo, válido pela primeira rodada das Eliminatórias para a Copa do Mundo da América do Norte, em 2026. O atacante do Barcelona só não foi melhor do que Neymar e Rodrygo, que marcaram dois gols cada um e que atuaram de forma maravilhosa em Belém.
Obras de arte
A seleção criou obras-primas dentro de campo. O quarto gol, então, teve a cara do dinizismo pleno. Bola de pé em pé desde a defesa, e Neymar bateu o recorde de Pelé. Chegou ao gol de número 78 em jogos oficiais. O CAMISA 10 ainda fez o gol de número 79 após um frango de Viscarra.
O quinto foi muito bonito mesmo com a falha do goleiro boliviano. Para o treinador do Brasil, foi o mais interessante da noite.
Fernando Diniz teve ótima estreia na seleção. Estilo diferenciado e envolvente de jogar, divertido sem ser irresponsável, e torcida feliz. Foi uma noite de futebol (quase) artístico.
Essência do dinizismo
Fernando Diniz, técnico do Fluminense e interino da seleção brasileira, tem ideias diferentes do que é o futebol. Ele surpreende e cala os críticos. Veja o Flu contra o Olimpia, algoz do Flamengo, na fase de quartas-de-final da Libertadores. Diniz montou o time em um inacreditável 4-2-4. O meio-campo, formado por André e Paulo Henrique Ganso ‘apenas’, criava para quatro atacantes: Jhon Arias, John Kennedy, Cano e Keno. Era o mesmo esquema do segundo tempo da partida contra o América-MG, pela 20ª rodada do Brasileiro. O Tricolor perdia por 1 a 0 e conseguiu a virada. Venceu por 3 a 1.
No jogo de ida das quartas da Libertadores, contra o Olimpia, o Flu conseguiu o resultado. O primeiro gol saiu de um chute do volante André no primeiro tempo. Cano ampliou na segunda etapa. Mesmo com a vantagem de 2 a 0, Diniz foi ousado. Tirou Felipe Melo, recuou André e colocou em campo Martinelli, ou seja, a zaga ficou formada com Nino e André. Martinelli passou a ser o primeiro cabeça-de-área alimentando quatro jogadores de ataque.
Na volta, no Paraguai, o Fluminense poderia ter reforçado o sistema defensivo como Fernando Diniz fez no segundo tempo das oitavas da Copa do Brasil contra o Fla. Felipe Melo tinha sido expulso, e Diniz armou um ferrolho. Algo quase inédito em sua carreira.
Enfim, em Assunção, na partida de volta, o técnico tricolor veio com a mesma escalação muito ofensiva, ou seja, com os quatro atacantes. Alguns momentos memoráveis aconteceram. Ainda no primeiro tempo, Keno, que foi o destaque da partida de ida no Maracanã, estava pela meia direita e deu lançamento certeiro para John Kennedy. Na segunda etapa, Cano deu novo show e fez dois. Flu 3 a 1 fora de casa e classificado para as semifinais contra o forte Internacional.
Esse esquema 4-2-4 assombrou a América do Sul por ter sido ressuscitado pelo grande Diniz.
Na verdade, a formação era um 4-4-2 muito ofensivo, com Arias e Keno como meias de ligação que jogam abertos pelas duas pontas e que, ao mesmo tempo, flutuam pelo meio-campo de um lado para o outro.
A seleção com o interino Fernando Diniz no Pará jogou em um belo 4-2-4 mesmo, com os atacantes (ou meias-atacantes) jogando sem posição fixa. Do meio para frente, mescla de futebol de campo e futsal.
Neymar surpreso com Diniz
Na coletiva na véspera do jogo, Neymar, que não dava esse tipo de entrevista como atleta da seleção aos jornalistas há quatro anos, comentou que nunca havia treinado daquela forma e que Fernando Diniz reinventa o futebol.
Como um Gusztáv Sebes, histórico treinador da Hungria da Copa do Mundo de 1954, Diniz parece ter concepções únicas do futebol, mas sempre preocupado em vencer ao contrário do que 'vociferam' os críticos.
Abraços boleiros e dinizistas!