Um ano sem Pelé e um futuro distópico para o futebol brasileiro
A morte do maior atleta do século XX pode ter representado o fim do domínio da seleção brasileira no cenário mundial
Assombro. Esse era meu sentimento quando vi jogadas de Pelé pela primeira vez. Não assisti a nenhum jogo do Rei no estádio. Nasci em 1979. Em 1987, meu pai me presenteou com filmes sensacionais em uma tarde mágica de sábado: ‘Brasil Tricampeão’ e ‘Isto é Pelé’. Os dois me deixaram louco. Assistia, rebobinava as fitas, era a época do videocassete, e via de novo. Quantos lances fantásticos. Nunca tinha visto (e nem vi depois) algo perto daquilo. As jogadas de Maradona e Messi foram as que mais me encantaram depois das imagens que vi em DVDs e na Internet de uma dupla sensacional: Edson Arantes do Nascimento, o maior atleta de todos os tempos, e um tal de Manuel, ou simplesmente Mané. Não, gente. Não é o senegalês muito bom de bola do Al-Nassr. É o astro do documentário ‘Garrincha, Alegria do Povo’, um dos dez melhores filmes da História do Cinema nacional. O quarteto da História do futebol é exatamente nessa ordem: Pelé, Garrincha, Maradona e Messi.
Enfim, fiquei viciado em Edson Arantes do Nascimento. Qualquer especial sobre Pelé e as seleções de 1958 e 1970 (em 1962, o Rei se machucou na fase de grupos, mas conseguiu marcar um golaço no goleiro mexicano de cinco edições de Copa do Mundo, Carbajal) ou reprise de ‘Isto é Pelé’, eu estava de olho em casa.
Com a Internet, tentei ver quase todos os gols. Obviamente, não consegui. E como ‘Pelé Eterno’ é bom! Fiquei mais apaixonado ainda pelo camisa 10 do Santos. Quase vi um gol dele em 1990. Foi em um amistoso entre Brasil 1 x 2 Resto do Mundo. Depois de boa jogada pela esquerda, o atacante Rinaldo ficou marcado por não passar a bola para o aniversariante Pelé, com 50 anos e livre de marcação. Rinaldo foi fominha e chutou para fora. Tomou aquela vaia.
Então, mesmo nascendo depois de Pelé encerrar a brilhante carreira, ele era uma flor de obsessão para mim como diria o jornalista Nelson Rodrigues. O maior jogador da História. Inigualável. A nova geração precisa assistir aquele vídeo do eterno camisa 10 do Santos fazendo jogadas e gols parecidos com os de craques contemporâneos. Na verdade, Messi, CR7 e outros de nossa época copiaram Pelé, sem a perfeição de movimentos do Edson Arantes.
Entrevistei Pelé antes da Copa de 2014. No dia 17 de novembro, troquei a Band pela ESPN. Era minha primeira passagem pela emissora da Disney. Na primeira semana de trabalho, já precisei viajar para São Paulo, ajudando na cobertura sobre a internação de Pelé no Hospital Albert Einstein. Ali, a saúde do Rei já não estava muito boa.
Uma triste data
No dia 29 de dezembro de 2022, a trágica notícia. Aos 82 anos, Pelé faleceu em decorrência de um tumor no cólon e tornava-se realmente eterno em nossas memórias.
Escrevi sobre Pelé nas redes sociais naquela data sombria, principalmente no meu perfil do Instagram (@pvjornalista), e no blog Notícias Acessíveis (www.noticiasacessiveis.blogspot.com). Um sujeito disse que aqueles textos eram baboseiras, e uma colega comentou que não faria homenagens ao camisa 10 das seleções de 1958, 62, 66 e 70 por causa da história da filha do Pelé que precisou de exame de DNA para ser reconhecida. O falso moralismo apareceu com força. Sempre fui a favor daquela máxima de ‘O homem que matou o facínora’, do histórico diretor John Ford: “SE A LENDA É MAIOR DO QUE O HOMEM, PUBLIQUE A LENDA”. No entanto, Pelé/Edson não precisou muito disso.
Com a morte dele, fico pensando em um futuro distópico, como aqueles livros e filmes que mostram esse futuro próximo de forma sombria, para o futebol brasileiro. Existem atletas do nosso país que são protagonistas em times europeus, caso de Rodrygo e Vini Júnior no Real Madrid, mas que ainda não conseguiram ser jogadores diferenciados na seleção. O camisa 10 atual, Neymar, convive com graves lesões e com a possível decadência técnica. Trocou o Barcelona pelo PSG. Anos depois, vai para o árabe Al-Hilal. Escolhas erradas para a carreira.
Será que o futebol brasileiro morreu com Pelé? O Santos, clube do eterno craque, foi rebaixado no campeonato nacional em homenagem ao Rei. Uma tristeza. O futuro do Peixe pode ser de trevas. Torço para ser o contrário, ou seja, iluminado apesar de gestões horrorosas do clube nesses últimos anos.
Escrevendo novamente sobre questões macro, tomara que a seleção e o futebol do Brasil não desapareçam. Na final do Mundial, o abismo entre o Manchester City e o Fluminense foi visível. Logo, o Brasil que mostrou à Inglaterra que havia reinventado o futebol. Em 2002, o Brasil foi pentacampeão. A Inglaterra sentiu o gosto de ser campeã apenas em 1966, em casa e com ajuda da arbitragem naquela Copa. Atualmente, creio que a seleção inglesa, enfim, é melhor do que a nossa.
Tomara que nossa seleção volte a evoluir. Por enquanto, a decadência é impressionante. Não tem um camisa 10, não possui um camisa 9 e não tem laterais. Será que ficaremos fora da Copa do Mundo pela primeira vez? Que saudade daquilo que não vi. Pelé realmente eterno. Sem a figura dele presente no Planeta Terra, seleção e futebol do Brasil estão perto do fim por falta de uma referência ou de memória? O brasileiro não sabe admirar, ou seja, os defeitos do homem Edson tiveram destaque. O brasileiro tem memória de peixinho de aquário.
Sem abraços por hoje.