Com rato de São Januário e ofensa, Eurico bate boca com Paulo André
Ex-presidente do Vasco, Eurico Miranda participou, na manhã desta segunda-feira, de um simpósio promovido pela Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf) de forma contrariada. “Eu não gostaria de ter vindo aqui, sinceramente”, admitiu, arrancando risos da plateia presente ao evento no Museu do Futebol, em São Paulo. O motivo é o descontentamento com a forma como os avanços no futebol vêm sendo discutidos e as propostas para isso.
Eurico identificou tudo isso no Bom Senso FC, grupo liderado publicamente pelo zagueiro Paulo André , do Corinthians. Diante de jornalistas, dirigentes e jogadores, ambos protagonizaram uma discussão com menções a desrespeito, coronelismo e até ratos nos alojamentos de São Januário.
Na visão de Eurico, mas sem citar nominalmente o Bom Senso FC, a movimentação recente por mudanças é elitista, efeito de uma tendência que está afastando a população dos estádios. O ex-presidente manifestou a ideia de que a elite do futebol impõe, protegida pela televisão e com anuência dos dirigentes, as condições atuais. “E a gente quer discutir calendário? Vamos falar sério”, criticou.
"Os altos salários, de R$ 200, 300, 800 mil, são uma violência dos clubes de elite para os demais, equipes que não têm calendário permanente e sofrem com problemas financeiros. Isso sim é a má gestão do futebol”, afirmou Eurico. O ex-presidente do Vasco ainda afirmou que, em São Januário, as categorias de base fornecem condições ideais para os atletas e citou benefícios como ar condicionado e alojamentos.
Paulo André discordou da fala de Eurico e, momentos depois, o desafiou a encontrar uma dezena de atletas que recebam R$ 800 mil mensais. “Basta um”, rebateu Eurico. Um clima de tensão foi instalado, até que o mediador fizesse a promessa de réplica e tréplica. “O atleta não tem esse poder todo de ganhar quanto quiser. Se o clube A paga R$ 50 mil e honra os compromissos, mas o clube B oferece R$ 100 mil sem conseguir pagar, quem está inflacionando o mercado são os gestores”, rebateu Paulo André, que ressaltou que os desmandos de dirigentes “coronelistas” não salvariam o futebol. “Para vocês, pode ser importante morar com ar condicionado. Mas em 2002 eu estive no Vasco, morei em São Januário. Tinha ratos deste tamanho”, provocou, abrindo as mãos em exagero.
Eurico sentiu profundamente e, em posse do microfone, rebateu Paulo André. “É uma ofensa gravíssima o que eu acabei de ouvir. Trata-se de uma instituição centenária que não produziu Paulo André, não. Eu poderia citar uma centena de jogadores, desde Edmundo a Romário. Eu tenho de futebol o que ele (Paulo André) tem de idade. Ele nunca viu rato. É porque ele andou pela Europa lá e viu ratos aqui, viu ratos na França, mas lá (em São Januário) ele não viu”, disparou. “Esse discurso (do Bom Senso) é demagógico. Eles não querem saber daqueles que sofrem. ‘Menos jogos, menos jogos’. Não querem saber daqueles que jogam menos e precisam jogar mais”, complementou.
Eurico Miranda deixou o Museu do Futebol antes do final do evento. Ao se levantar, cumprimentou os presentes, inclusive Paulo André, com quem trocou um aperto de mãos cordial. “Eu acho que isso aqui só teve discussão porque eu estive aqui”, provocou, na saída.
De fato, até se contrapor ao Bom Senso FC, não havia embate de ideias. E se despediu com mais uma menção ao zagueiro corintiano, que permaneceu no simpósio. “Ele vai ter que comer muito tutu de feijão para poder falar de uma instituição centenária com o Vasco”, disse, aos risos. "Vim para discutir. Cada um fala o que quer, e eu não vou deixar de falar o que eu penso", minimizou Paulo André.