Corinthians deu resposta insatisfatória à polícia sobre R$ 56 milhões em caso Vai de Bet
Segundo investigações, clube fez 'acordo verbal' para receber pagamento por meio de intermediária fora do contrato com ex-patrocinadora apesar de acordo indicar necessidade de manifestação por escrito; procurado pelo Estadão, clube não se posicionou
A Polícia Civil considerou insatisfatória a resposta do Corinthians sobre o recebimento de R$ 56 milhões por meio de intermediários de pagamento fora do contrato com a Vai de Bet. O valor é referente à parte da quantia paga pela antiga patrocinadora no período em que foi parceira do clube. Segundo as investigações do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), o Corinthians alegou ter feito um "acordo verbal" para permitir o pagamento por outro intermediário. A reportagem procurou o clube, mas não obteve resposta até o momento. Caso isso venha a acontecer, a matéria será atualizada. Todos os envolvidos no caso negam irregularidades.
Em outubro, a polícia enviou um ofício ao Corinthians solicitando o contato de Luís Ricardo Alves, superintendente financeiro, para explicar se houve autorização por parte da diretoria para receber o pagamento. O acordo com a Vai de Bet previa a possibilidade de o pedido ser realizado por escrito. Segundo as investigações, o clube respondeu que não encontrou o documento com a manifestação e que a permissão foi feita de maneira verbal.
O contrato do Corinthians com a Vai de Bet previa que a antiga patrocinadora utilizaria duas intermediárias para realizar as remessas ao clube: a Zelu Brasil Facilitadora e a Pay Brokers. Esta última, segundo a planilha anexada aos autos do processo, foi a responsável por depositar R$ 10 milhões dos R$ 66 milhões pagos ao clube no total.
Os outros R$ 56 milhões foram pagos por outras três intermediadoras ausentes no contrato: Otsafe e Pagfast EFX, a segunda, com dois números de CNPJ diferentes. Uma cláusula do contrato obrigava o Corinthians a manifestar aprovação prévia e expressa caso a Vai de Bet realizasse os depósitos por meio de terceiros não citados no acordo, justamente para realizar "checagem cadastral" da empresas.
Tanto a Zelu Brasil Facilitadora e a Pay Brokers foram alvos da buscas da Polícia Civil de Pernambuco na Operação Integração, que investiga um suposto esquema de lavagem de dinheiro por meio de jogos de azar.
Os depoimentos de José André da Rocha Neto, fundador da Vai de Bet, e André Murilo, diretor financeiro da marca, foram remarcados para o dia 2 de dezembro. A oitiva seria realizada nesta quarta-feira, 27, e quinta, 28, mas foram remarcadas por solicitação dos investigados. A expectativa é de que os dirigentes do Corinthians sejam ouvidos somente em 2025.
Atraso nos repasses de dados bancários 'retardam' investigação
A Polícia Civil ainda aguarda informações de dados financeiros solicitados por meio da quebra de sigilos bancários. Segundo o delegado Tiago Fernando Correia, apenas a Caixa Econômica respondeu e de maneira parcial. A investigação quer resposta nas quais a Neoway Soluções Integradas e Edna Oliveira dos Santos possuem contas.
"As respostas serão cruciais para que possamos dar um desfecho ao caso. Toda investigação sobre lavagem de capitais é complexa, pois é preciso seguir os rastros do dinheiro. Precisamos da cooperação de outros órgãos públicos e entes privados, o que acaba muitas vezes retardando o andamento da apuração", afirma o delegado.
O contrato do Corinthians com a Vai de Bet previa o pagamento de 7% do montante líquido de cada parcela à Rede Media Social Ltda, intermediadora do acordo. Ou seja, R$ 700 mil por mês ao longo de três anos, resultando em R$ 25,2 milhões ao fim do contrato. Após os pagamentos da comissão, a Rede Social Media Ltda repassou parte dos valores por meio de Pix à Neoway, empresa com endereço na Avenida Paulista que serviria como "laranja".
A Neoway foi registrada no nome de Edna sem seu conhecimento. A mulher vive em condições simples, em Peruíbe, no litoral paulista. Por sua vez, a Rede Social Media está no nome de Alex Fernando André, mais conhecido como Alex Cassundé, antigo membro da equipe de comunicação de Augusto Melo, presidente do Corinthians. Cassundé que conheceu Vai de Bet pelo ChatGPT e negou que tenha cobrado por sua parte na negociação.
Segundo relatório técnico da DPPC, as primeiras informações disponíveis no aparelho datam de 30 de maio de 2024, exatamente um dia depois do início das investigações, reforçando a hipótese de o aparelho foi restaurado ou que todas as informações anteriores tenham sido deliberadamente apagadas.