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De 'padre da Fiel' a engenheiro temeroso: torcida corintiana festeja volta à Neo Química Arena

Arquibancadas ficaram vazias por um ano e sete meses em razão da pandemia da covid-19

5 out 2021 - 21h25
(atualizado às 21h45)
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Foram 586 dias de espera que a torcida corintiana, e todas as outras, não queriam ter amargado. Mas o período sem público nos estádios ficou para trás. Na noite desta terça-feira, antes de Corinthians x Bahia, primeiro jogo com torcida na cidade de São Paulo, a maioria preferiu festejar o retorno a lamentar o longo tempo sem poder ver o seu time nas arquibancadas. Nos arredores da Neo Química Arena, corintianos de todos os tipos, desde o "Padre da Fiel" até um casal de empresários, estavam eufóricos.

"É uma emoção muito grande. Esperamos com muita ansiedade esse momento", resumiu Moacir Avian, 64 anos. Sua profissão é gerente de vendas. Mas em dia de jogo do Corinthians ele atende por "Padre da Fiel". É vestido com uma batina vermelha que carrega o escudo do Corinthians que ele vai às partidas.

"Esse traje se deu por acaso. Eu era o padre da festa junina do meu condomínio, coloquei o distintivo do Corinthians e virei o 'padre da Fiel", conta o torcedor, que diz ir a todas as partidas da equipe alvinegra em São Paulo.

Antes da pandemia, Kelvin Thiago, 27 anos, percorria não só o Brasil, mas a América do Sul atrás do Corinthians e naturalmente estava ansioso para rever o seu time no estádio depois de um ano e sete meses. "Estava presente no último jogo do Corinthians na arena. Ficar tanto tempo distante foi difícil. Eu e meus parceiros viajávamos o Brasil e o continente atrás do Coringão".

Kelvin é uma figura popular no meio do futebol, especialmente nas redes sociais. Ele se tornou famoso a partir do Corinthians. Começou a frequentar os estádios atrás do clube paulista, com uma câmera na mão, fazendo imagens do comportamento dos torcedores na arquibancada e virou um influenciador. Trabalhou no Desimpedidos, um dos maiores canais do YouTube sobre futebol do mundo, é administrador da página Corinthians Mil Grau e dono do canal Mil Grau 777, com quase 1 milhão de inscritos. Recentemente, abandonou o personagem "Mil Grau, para produzir conteúdos sobre outros temas que não o Corinthians. Mas a paixão pelo time nunca mudou e ele não deixaria de estar na arena corintiana no primeiro jogo em que isso fosse possível.

"Estava com muita saudade. Finalmente de volta, com público reduzido. Só 14 mil representando a fiel, mas feliz de estar aqui de novo", afirma o produtor de conteúdo.

O engenheiro Nigel Sampaio, 26 anos, estava temeroso de que não poderia mais ver o Corinthians de perto antes de deixar o Brasil. Para sua sorte, o público foi liberado nos estádios depois de um ano e sete meses e ele pôde sentir o gosto de vibrar com a equipe antes de se mudar para a Europa a trabalho no próximo ano. "Fiquei um pouco desesperado quando soube que iria morar fora porque naquele momento não sabia se o público voltaria ao estádio ou não", ressalta o torcedor.

Nigel pagou R$ 220 pelo ingresso na internet. Embora seja sócio-torcedor, não conseguiu adquirir o bilhete com desconto porque a procura estava alta. Nada que fosse problema para ele rever o time na arena corintiana. "É uma emoção enorme, ainda mais com o time mais competitivo agora", salienta o esperançoso torcedor, feliz com o quarteto de reforços (Giuliano, Renato Augusto, Róger Guedes e Willian) que chegou recentemente e foi responsável pelo crescimento da equipe em campo.

Houve também quem tenha vindo só pelo entretenimento. "Vim só para animar o pessoal aqui", diz Gabriel, 22 anos, vestido de Chapolin Colorado.

Os estádios em São Paulo podem receber torcida com 30% de sua capacidade desde segunda-feira, por decisão do governo. O governador João Doria autorizou o limite de 50% dos dias 15 a 30 de outubro. A partir de 1º de novembro 100% estará autorizada a lotação máxima das arenas. "A covid-19 está indo embora aos poucos", festejou o torcedor Leandro. Ele é empresário e foi ao estádio com a mulher, Fernanda, corretora de imóveis.

Para o ingresso nos estádios, os torcedores têm de apresentar um comprovante com esquema vacinal completo, ou seja, duas doses da vacina (de qualquer marca) ou dose única da Janssen. Quem recebeu uma dose tem de exibir um teste PCR negativo com validade de 48h ou 24h para o teste antígeno.

O último jogo do Corinthians com público em Itaquera aconteceu em 26 de fevereiro do ano passado, quando 17.401 mil pessoas assistiram ao empate em 1 a 1 com o Santo André, pelo Paulistão. De lá para cá, foram 47 partidas com portões fechados na arena corintiana, com 19 vitórias, 16 empates e 12 derrotas.

A partida que marca a volta parcial da torcida para a Neo Química Arena pôde receber até 14.600 torcedores, respeitando 30% da capacidade do estádio. A venda dos ingressos foi aberta na última sexta-feira e se deu somente online. O Corinthians priorizou os torcedores com créditos relativos às partidas que tiveram comercialização de ingresso no Paulistão de 2020, mas que não puderam ter a presença do fã por conta da pandemia.

Esses torcedores puderam comprar bilhetes de todos os setores. Depois, o clube abriu a venda para sócios no sábado pela manhã e para os torcedores em geral domingo, antevéspera do jogo. Os valores variam de R$ 40 (setores norte e sul) a R$ 650 (camarote).

O clube instalou equipamentos de medição de temperatura corporal e disponibilizou totens com álcool em gel para os torcedores. Também havia fiscais para garantir que os protocolos fossem cumpridos. O protocolo prevê o uso obrigatório de máscara em todos os setores das arenas. A reportagem notou que houve aglomerações em alguns pontos, especialmente antes de os portões serem abertos, e também flagrou torcedores sem máscara. A organização para acomodar os torcedores e a imprensa foi confusa, talvez por ter sido o primeiro duelo com público depois de muito tempo.

Estadão
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