Duilio cogita fim do Sub-23, fala de Jaça e revela objetivo na presidência do Corinthians
"Esses sete meses e meio, quase oito, a gente, por enquanto, só teve a parte ruim".
A declaração é de Duilio Monteiro Alves, presidente do Corinthians empossado no início de 2021, com o clube em situação crítica nos bastidores e sob uma pandemia sem precedentes.
Na sala da presidência, no quinto andar do edifício que há no Parque São Jorge, o mandatário, entre uma reunião e outra, recebeu a equipe da Gazeta Esportiva, na última terça-feira. "Pode perguntar o que você quiser".
Nesta entrevista exclusiva, que durou aproximadamente 55 minutos, o ex-diretor de futebol, apesar de não renegar o estilo moderado, revelou, por exemplo, que há a possibilidade do clube desfazer a categoria Sub-23 a partir do próximo ano.
"A gente está fazendo um trabalho muito técnico e financeiro, uma análise administrativa e financeira, e os prós e contras de continuar ou terminar. A gente não tem isso decidido".
Duilio também falou sobre Jacinto Antônio Ribeiro, o tão conhecido Jaça, alvo de apontamentos pela influência na base corintiana, mesmo sem cargo oficial.
"Não tem nada a ver a relação do Sub-23 com o Jaça, ou com esse ou com aquele".
As polêmicas e as cobranças não foram poucas nesse curto período. Neto e filho de ex-dirigentes, Duilio procura não se abalar com a pressão.
"Falar do Corinthians vende. E falar mal do Corinthians vende mais. Meu pai falava isso: 'notícia ruim é notícia boa e notícia boa não é notícia'. Infelizmente, muita gente, sem generalizar, mas muitos trabalham com isso. Então, quando mais mal você fala, você acaba tendo mais repercussão, mais views, mais cliques, hoje em dia é essa parte das redes sociais".
Sucessor de Andrés Sanchez, Duilio ocupará o cargo de maior poder no Corinthians até o fim de 2023, e o objetivo está traçado.
"Quero entregar o Corinthians com as contas, não pagas, é impossível, como eu coloquei, mas com uma dívida organizada, equacionada, dentro do orçamento, com o faturamento maior que ele tem até hoje, e, com certeza, a gente vai alcançar isso com essas novas receitas do marketing. Um time forte, que se entrega em campo. E sair daqui com a torcida contente, dentro do estádio, cantando e apoiando".
Para ter sucesso na empreitada, Duilio vai precisar encontrar a melhor maneira de reduzir a despesa e elevar a receita do clube. As primeiras conquistas neste sentido já começaram a aparecer.
"Arredondando, posso falar em R$ 50, 60 até 70 milhões de dinheiro novo em termos de marketing".
Leia a entrevista completa com Duilio Monteiro Alves, presidente do Corinthians:
Seu pai trabalhou aqui, você está ao lado do seu irmão, seu filho é frequentador do Parque São Jorge… Como está sendo esse período, como é o papo com a família, o tamanho disso aqui?
"Teve meu avó, antes do meu pai, teve uma história muito linda aqui no clube, foi vice-presidente, foi diretor social, foi diretor de futebol por muitos anos, era o diretor de futebol no título de 77. Meu irmão está aqui, no dia-a-dia, me ajudando muito, sempre presente, meu filho, como você falou, minha família toda. Eu nasci e fui criado aqui, sou sócio do Corinthians desde o dia do meu nascimento, sou sócio do Corinthians desde antes mesmo de ser registrado, então, a gente tem uma história longa, de muito amor ao clube".
"Infelizmente, as reuniões com a família não têm acontecido por conta da pandemia. A gente se fala muito por telefone, por facetime, essas tecnologias novas, mas por cuidado com meu pai, minha mãe, então, a gente tem evitado essas reuniões, infelizmente, e torcendo para que tudo isso acabe logo para que a gente possa ter a família aqui, mais perto do clube, porque é uma coisa sensacional, que vai ser muito gostoso de viver".
"Tenho falado isso com meu pai, muito. Esses sete meses e meio, quase oito, a gente, por enquanto, só teve a parte ruim, vamos dizer assim, do mandato. Você não consegue receber os amigos, não consegue revê-los, assistir jogo, ver a Fiel dentro do estádio. O Corinthians é um clube da torcida e esse afastamento é um pouco triste para o futebol. É um começo de mandado com esses problemas, mas também de coisas boas que a gente, nesse sete meses, oito, a gente já conseguiu fazer pelo clube".
A pergunta que nós, jornalistas, mais recebemos nos últimos tempos: e o Roger Guedes?
"A gente vem fazendo um trabalho desde o início do mandato, de redução de custos, de trabalhar com todas as diretorias dentro do seu orçamento, sem que a gente tenha algum tipo de desvio, para a gente manter o clube da melhor forma possível, mas também o principal, que a gente vem trabalhando muito, porque o Corinthians é muito grande e não dá para a gente pensar só em cortar custos, em trazer novas receitas".
"No futebol, especificamente, a gente fez uma redução muito grande nesses primeiros meses. Lógico que existem contratos. O ideal era que a gente fizesse em janeiro esses cortes, saídas de atletas por fim de contrato, outros por empréstimos, outros por venda, mas como existe contratos você tem de cumpri-los. No futebol, até para que o torcedor saiba, a gente vê muita gente falando 'ah, manda o fulano embora, manda sicrano embora', mas não é assim, você tem de cumprir o contrato todo. Então, se o atleta sair, você tem de pagar todo o contrato. Isso demorou um pouco, para que a gente chegasse em um valor de folha. Só por isso a gente conseguiu trazer, agora, os primeiros reforços. Corinthians ficou, acho que é o único clube do Brasil que não contratou no primeiro semestre, em todas as divisões".
O Carlos Brazil chegou à base, houve uma reformulação, mas outro ponto muito abordado é a situação do Sub-23, que mudou bastante, mas de novo temos você sendo questionado sobre o Jacinto Ribeiro, o Jaça, que não tem cargo oficial, mas tem influência na categoria. Eu queria que você explicasse ao torcedor qual é o papel do Jaça, por que ele é tão influente e o que você quer da categoria de base com essa reformulação?
"Trouxemos o que entendemos que é o melhor profissional do marcado, que é o Carlos Brazil. Pesquisamos, conversamos, levantamos as bases de todos os clubes do Brasil, mesmo na CBF, quando o Branco teve problema com a covid, o Carlos Brazil assumiu, e acompanhamos por último o trabalho dele no Vasco. A gente vê o Vasco chegando nas finais de todos os campeonatos de base, revelando atletas e fomos atrás de saber. Ele fez um trabalho maravilhoso lá e entendemos que ele é o melhor profissional, no momento, na base de qualquer clube no Brasil. Fomos atrás do melhor, conseguimos trazê-lo".
"E, junto com ele, estamos fazendo uma reformulação, realmente, mudando métodos, formas de avaliação de atletas, tudo que você puder imaginar a gente tem feito, um pente fino, vamos dizer assim, e reestruturando a base, dentro do que a gente entende, junto com ele, que não estava funcionando. Saída de muitos atletas também, saíram mais de 50 atletas, 60 atletas, se não me engano, das categorias de base. A gente aumentou um pouco a linha de corte, vamos manter, realmente, jogadores que já tenham mostrado que podem ir para o profissional no futuro".
"Lógico que você não consegue acertar em todas, então, muitas vezes teremos atletas que, amanhã, podem estourar em outro lugar, isso a gente está sujeito, mas temos de reduzir o número de atletas para dar uma formação melhor, uma atenção melhor e ficar com os atletas, realmente, de nível mais alto. Estou até falando porque, daqui a alguns anos, vai aparecer alguém que estourou em algum lugar e vão falar 'pô, saiu na gestão Duilio'. Pode ser. E, se não sai, a gente vai escutar 'tem muito jogador aí que não dá, que não serve, a gente gasta dinheiro a toa'. Então, a gente tem de tomar decisão, e a gente vai errar e acertar às vezes".
"Em relação ao Jaça, o Jaça é um cara que trabalhou muitos anos aqui. Não 'trabalhou', né? Se dedicou, porque nunca foi funcionário do clube. Se dedicou muitos anos à base do Corinthians, ao Corinthians, que há 20, 30, 40 anos atrás, levava os atletas aos jogos com seu carro, comprava o lanche, junto com o Andrés, como muitos outros conselheiros que estão aqui e fizeram muito pelo Corinthians"
"Não tem nada a ver a relação do Sub-23 com o Jaça ou com esse ou com aquele. O Jaça é um cara que está próximo, sempre esteve, é um amigo também e é um cara que, em muitas vezes, pode ajudar. E foi muito injustiçado em outras, em contratações que ele acabou levando, vamos dizer, a conta. Foi colocado na conta dele. Então, só para deixar claro, em relação ao Sub-23, não tem nenhum tipo de problema".
O Sub-23, hoje, vem fazendo um bom campeonato com o Danilo. Nós mudamos a forma de conduzir, se vocês perceberam, com menos jogadores chegando, a saída de muitos e a utilização de muitos atletas que são do clube e estavam emprestados em outros clube, jogando Série B, por aí, e a gente entendeu que era melhor estarem perto da gente, para que a gente possa utilizar também no profissional, caso tenha necessidade. Isso vem acontecendo. A gente coloca aí o Roni, que saiu de lá, o Raul Gustavo saiu de lá, o Vitinho saiu de lá, então, a gente já vê resultado de jogadores que poderiam ter saído do clube por não ter a categoria Sub-23. E a gente vem fazendo uma análise agora, com o Carlos Brazil, do futuro do Sub-23 para o ano que vem o que será. Se a gente vai permanecer, se a gente vai mudar a forma, ainda mais um pouco, de trabalho, os atletas que vêm".
"Mas, estou satisfeito com a mudança que teve, o time vem jogando bem, o Danilo vem se mostrando um bom treinador. Muitas coisas aqui se usam internamente para se fazer críticas à diretoria e o 23 é uma delas, ficou com essa marca, digamos assim".
Não dá para cravar que o Corinthians vai manter o Sub-23 para os próximos anos?
"A gente vem conversando bastante sobre isso, vem estudando. Quando você consegue levar jogadores do 23 para o profissional, isso também balança um pouco de você acabar com a categoria, porque você pode perder talentos, como eu falei, mas a gente tem feito muita conta, junto com a consultoria da Falconi, que está aqui com a gente nesse caso, de possibilidades. Se não acabar, renovação de 'x' jogadores, quanto seria para que você empreste em vez de manter uma categoria toda. A gente está fazendo um trabalho muito técnico e financeiro, uma análise administrativa e financeira, e os prós e contras de continuar ou terminar. A gente não tem isso decidido, mas estamos classificados e contentes com o time, que pode chegar a um título que a gente ainda não tem".
Qual é o Corinthians que você quer entregar ao próximo presidente e qual é o seu grande sonho ao fim do mandato?
"Quero entregar o Corinthians com as contas, não pagas, é impossível, como eu coloquei, mas com uma dívida organizada, equacionada, dentro do orçamento, com o faturamento maior que ele tem até hoje, e, com certeza, a gente vai alcançar isso com essas novas receitas do marketing. Um time forte, que se entrega em campo. E sair daqui com a torcida contente, dentro do estádio, cantando e apoiando. Acho que é isso. Título, é lógico que a gente sonha sempre em conquistar. Eu, graças a Deus, pude contribuir em alguns, tanto como diretor-adjunto de futebol, como diretor de futebol, lógico que como presidente eu gostaria de conquistar títulos, mas acho que mais importante que isso é entregar um Corinthians organizado, mais forte, um Corinthians com compliance, com uma administração moderna, um Corinthians transformado, vamos dizer assim, e com a torcida contente. Sair daqui a três anos com a torcida contente com o que foi feito, independente de títulos, mas sempre estando brigando por títulos, brigando lá em cima, onde o Corinthians tem de estar, e o principal é ver nossa torcida feliz".
Chega a ter um sonho do outro lado do mundo?
"Sem dúvida nenhuma. Todos os dias. Tive o prazer de estar lá no banco de reservas naquela conquista e lógico que eu tenho esse sonho de chegar lá novamente. Mas, a gente sabe como é o futebol, mas a gente vai trabalhar para isso. Eu vou falar aqui, já vai virar meme 'ah, o presidente falou que o Corinthians vai ser campeão do mundo'. Lógico que vai, não sei se na minha gestão, mas essa organização é a base para que o Corinthians nunca mais deixe de ser protagonista no mundo".