Entenda por que as camisas de manga longa desapareceram do futebol
Até Cristiano Ronaldo não tem utilizado o modelo no Al-Nassr, da Arábia Saudita; peças mais tecnológicas são o principal motivo da mudança de cenário
As camisas de manga comprida caíram em desuso no futebol. Poucos jogadores fazem pedidos especiais para as fornecedoras para atuarem com modelos personalizados. Até Cristiano Ronaldo, que sempre se destacou por usá-los nos clubes e na seleção portuguesa, abriu mão recentemente da peça inteiriça na sua atual equipe, o Al-Nassr, da Arábia Saudita.
Na Série A do Campeonato Brasileiro, apenas quatro equipes ao menos comercializam estes modelos para os torcedores: América-MG, Coritiba, Grêmio e Vasco.
A linha do clube mineiro, por exemplo, faz parte de uma coleção especial da Volt Sport, fornecedora que fez camisas com manga para os oito times no futebol brasileiro. "O projeto das camisas de manga longa foi desenvolvido de forma pontual e gerou uma resposta bastante positiva para Volt. Para este ano, temos planejado o lançamento de novas linhas de produtos, sempre com a missão de criar alternativas para atender aos anseios dos torcedores e gerar novas fontes de receitas para os clubes", afirmou Fernando Kleimmann, sócio-diretor da Volt.
Mas qual o motivo do sumiço? O principal foi o crescimento das camisas térmicas no mercado. Os modelos, cada vez mais tecnológicos, se tornaram uma prioridade para os jogadores nas partidas com baixa temporada. Os produtos prometem melhorar o desempenho e manter a temperatura corporal.
"Com a busca para novos produtos e tecnologias para aprimorar a performance, as camisas térmicas colaboraram para a aposentadoria das camisas de manga longa, que são produtos com custo de produção maior para as fornecedores e preços mais altos para o consumidor final", afirmou Armênio Neto, executivo com ampla experiência na indústria do esporte.
Para Renê Salviano, especialista em marketing esportivo e fundador da HeatMap, com o desuso em campo, essas camisas de manga longa se tornaram uma opção para ativações de marketing para os clubes.
"Estes modelos faziam partes de linhas anuais, produtos que completavam a coleção de uniformes apresentada pelos clubes. Com essas mudanças, as peças passaram a ser importantes em ativações esporádicas, fomentando novas fontes de rendas para times e fornecedoras, que passaram a aproveitar datas comemorativas e projetos especiais para comercializar camisas de manga longa, seja com referências retrô ou com materiais da camisa de jogo", afirmou Renê Salviano.
Reginaldo Diniz, CEO e sócio-fundador da End to End, empresa que conecta o torcedor à sua paixão e é um hub de soluções e engajamento para o mercado esportivo, relembra uma campanha de sucesso do Palmeiras para exemplificar o quanto o torcedor gosta da camisa de manga longa.
"Palmeiras e Puma resgataram esse sonho de consumo dos torcedores ao lançar uma camisa comemorativa em alusão à arrancada de 1942, toda branca e de manga longa. Foi um sucesso absoluto de vendas e exclusiva apenas para sócios-torcedores Avanti. Acredito que, se não em larga escala para jogo, deveriam ser lançadas em ações específicas, já que podem gerar novas receitas aos clubes", afirmo o Reginaldo Diniz, que tem também case o 'Manto da Massa' para o Clube Atlético-MG, sucesso de vendas por três anos consecutivos e vídeo e campanha de lançamento da nova camisa do Vasco.
Na visão de Marcel Pinheiro, diretor de comunicação e marketing do Fortaleza, esta extinção é uma questão natural do esporte e que exige adaptação dos departamentos comerciais para a confecção de novos produtos. "A tecnologia está cada vez mais presente no futebol, seja nas regras do jogo ou até mesmo no material utilizado pelos jogadores, que sempre buscam novos materiais para melhorar o desempenho. As camisas de manga longa perderam espaço, mas temos cada vez mais ações para tornar rentável este setor, com uma facilidade cada vez maior de fazer produtos para que remetem as conquistas e datas comemorativas", afirmou.