Final sonhada, Brasil x Argentina depende de Neymar e Messi
Nos dois países a sensação é de que os dois rivais só chegarão a uma decisão se suas estrelas brilharem; e não faltam esforços para tornar o sonho possível
Em um mês de 64 jogos, prever o futuro é tarefa impossível. Mas a Copa do Mundo do Brasil começa nesta quinta-feira com uma vontade expressa de entusiastas da Seleção Brasileira: torcer no dia 13 de julho para o país-sede contra a Argentina no Maracanã. O sentimento no país vizinho é recíproco, assim como a certeza de que a sonhada decisão depende muito do futebol de Neymar e Messi.
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Todos os jogadores brasileiros questionados sobre quem gostariam de enfrentar em uma hipotética final ao menos citam a Argentina como opção. Fred, Paulinho, Willian... “Eu gostaria de um Brasil x Argentina, pelo clássico, pela história. Seria um jogo bastante legal, histórico, ganhar de um rival com tanta história”, engrossa Daniel Alves.
Assim como falar de Brasil e Argentina virou praxe, a dependência de Neymar rondou todas as entrevistas na Granja Comary. A Seleção chega à Copa sem ser testada em jogos sem Neymar, mas apesar do esforço em valorizar o grupo todos têm a certeza de que a busca pelo hexacampeonato vai depender muito de quanto o camisa 10 vai render em sua primeira Copa do Mundo.
Não à toa, Felipão tem dado o suporte para Neymar brilhar desde que assumiu a Seleção Brasileira em 2013. Fora de campo, preparou o craque para a Copa das Confederações com blindagem, controlando o acesso a patrocinadores, e carinho, defendendo o atacante das críticas por sua deficiência em decidir grandes jogos. Deu certo, e Neymar liderou o Brasil ao título.
Para a Copa do Mundo, o foco de Felipão mudou. Agora o desafio é fazer a Seleção criar alternativas para a forte marcação que Neymar será alvo, como ficou claro após a atuação apagada contra a Sérvia. Nos treinos da última semana Felipão fez inversões de posição, testou Neymar mais próximo a Fred e deixou opções para que o atacante não fique preso a um posicionamento. O camisa 10 precisa ter liberdade e o suporte para ser o diferencial.
A boa relação entre os dois ficou clara em entrevista na véspera da estreia do Brasil contra a Croácia, nesta quinta-feira, às 17h (de Brasília), na Arena Corinthians. Entre brincadeiras e afagos, Neymar disse que sempre enxergou Felipão como um técnico vencedor "desde a época do Palmeiras" e foi retribuído pelo treinador. "Sendo mais um, como craque que é, sempre pode fazer diferença. Sendo mais um, também fará a diferença e é assim que tratamos todos os jogadores", disse Felipão.
A Copa de Messi maduro
Entre os argentinos, em declarações como de Javier Mascherano e do próprio Lionel Messi, a final contra o Brasil no Maracanã seria o cenário ideal para a Copa do Mundo. E Messi parece bastante ciente que a maior responsabilidade neste caso está sobre seus ombros. Nos últimos meses, é o camisa 10 e capitão o responsável por tomar a frente em muitas situações. Mesmo avesso aos microfones, ele é o principal porta-voz de uma Argentina que trabalha de maneira quase sempre privada, mas com objetivo conhecido por todos.
Artilheiro da equipe nas Eliminatórias Sul-Americanas com 10 gols marcados, Messi também parece mais bem aceito pelos argentinos após quatro anos. Na África do Sul, convivia com críticas de que sequer sabia cantar o hino do país. O carinho do povo estava destinado a Carlitos Tevez, afastado da seleção desde a eliminação na Copa América 2011. Alejandro Sabella assumiu a seleção e, aparentemente em uma decisão conjunta com Julio Grondona, presidente da Associação de Futebol Argentina, afastou Tevez para potencializar seu jogador mais talentoso. Messi, aquele que até hoje só tem um gol em Copa do Mundo e precisa provar outra vez.
Por mais que houvesse um clamor das arquibancadas para que Carlitos estivesse no Brasil, Lionel Messi conseguiu potencializar toda sua capacidade sem uma sombra no vestiário e no coração dos torcedores. Sem Tevez, ele reina absoluto, lidera a ala de "rosarinos" (que vêm da cidade de Rosário) no vestiário, com Angel Di María e Maxi Rodríguez, entre outros. Capitão sem braçadeira e amigo inseparável em Barcelona, Javier Mascherano completa as lacunas do introvertido Messi no aspecto liderança em um vestiário mais harmonioso. A presença do sereno Alejandro Sabella, escolhido pelo perfil oposto a de Diego Maradona e Sergio Batista, é um bálsamo.
Taticamente, Messi joga como um dia indicou Pep Guardiola, aquele que antes de todos enxergou no então garoto capacidades que iam além de driblar pela ponta direita. Lionel tem liberdade de movimentação: em teoria, é o meia-atacante central que os argentinos preferem chamar de enganche. Na prática, aproxima de Fernando Gago mais recuado pela direita, estica passes para Di María avançar pela esquerda e encosta nos dois atacantes, Higuaín e Agüero, como um terceiro. Ainda assim, é comum vê-lo próximo à ponta direita, de onde dribla com naturalidade e torna a equipe incisiva. Hoje, Lionel Messi está em todas as partes.
Obcecado pela décima Liga dos Campeões, Cristiano Ronaldo se dedicou e se desgastou ao limite para triunfar pelo Real Madrid - agora, está em condição física distante do ideal. Franck Ribéry perdeu o Mundial por um problema na coluna. Alemão que mais desequilibra, Marco Reus virou baixa de última hora em uma Copa marcada por problemas. Problemas, porém, é o que Messi simplesmente não tem. Ele está 100% fisicamente e parece em plena consciência do que precisa para ameaçar o trono de Diego Maradona e Pelé. Para o fim feliz que sonha para seu filme, já escolheu o vilão a ser vencido: "tomara que possa encontrar Neymar na final", disse na terça-feira.